Ano novo, velhos problemas
As subidas de preços de bens e serviços essenciais anunciadas nos últimos dias merecem a discordância do PCP, que realça que parte significativa da reposição de rendimentos iniciada em 2016 será assim absorvida.
Os preços aumentam em bens e serviços essenciais
Numa nota do Gabinete de Imprensa emitida ao final do dia 3, o PCP refere-se aos aumentos previstos na electricidade, combustíveis, portagens, comunicações e transportes públicos, lembrando que estes serão «projectados em cadeia nos preços de outros bens essenciais, nomeadamente na alimentação». Realçando que os aumentos previstos merecem «preocupação e discordância», o Partido sustenta-se no último inquérito às despesas das famílias para afirmar que este agravamento do custo de vida irá absorver muito do que foi possível recuperar em 2016 no rendimento dos trabalhadores e dos reformados, «impedindo e limitando desta forma a melhoria das condições de vida da nossa população».
Dos resultados do último destes inquéritos, divulgado em Dezembro e realizado entre Março de 2015 e Março de 2016, é possível concluir que as despesas em «habitação, água, electricidade, gás e outros combustíveis» representam 31,8 por cento das despesas familiares, enquanto os «transportes» representam 14,7 por cento, sensivelmente o mesmo do que os «produtos alimentares e bebidas não alcoólicas». Ou seja, conclui, estes três grupos de despesas representam em conjunto, e em média, 60,9 por cento do total das despesas familiares, enquanto que em 2000 não iam além dos 53,5 por cento.
Os resultados dos últimos inquéritos, e a comparação com estudos similares anteriores, permitem também concluir que desde o início da década de 90, em resultado da política de privatizações e dos cortes nos apoios à saúde e à educação, as despesas com «habitação, água, electricidade, gás e outros combustíveis» aumentaram 2,6 vezes na estrutura das despesas familiares, passando de 12,4 para 31,8 por cento. Já as despesas com comunicações aumentaram três vezes e com saúde quase que duplicaram, enquanto que os gastos com educação estão muito perto de terem quadruplicado.
Elevar o nível de vida
No seu comunicado, o PCP recorda a política praticada pelo anterior governo PSD/CDS, marcada por um forte ataque aos rendimentos dos trabalhadores e dos pensionistas, com «cortes reais nos salários e pensões, que se estimam em cerca de 16 e 8 por cento, respectivamente, e com um enorme aumento da carga fiscal, nomeadamente em sede de IRS, em 2016 e 2017». Logo a seguir, o Partido destaca a recuperação, ainda que insuficiente, de rendimentos perdidos, tornada possível com a nova fase da vida política nacional.
O Partido sublinha ainda não ser possível «ignorar as consequências destes aumentos», cuja dimensão não pode ser avaliada «ignorando a política de saque de rendimentos, praticada durante o governo PSD/CDS-PP». E, muito menos, ignorando que estes aumentos conduzirão à «acumulação dos lucros de algumas grandes empresas, como acontece nos sectores da energia, dos combustíveis e das telecomunicações, quando a dimensão do mercado interno é limitada pelo baixo nível dos rendimentos da maioria da população». Esta situação conduz, conclui o PCP, a maiores dificuldades no escoamento da produção das empresas, particularmente as de menor dimensão.
Para o Partido, o País precisa de uma política que «rompa com a matriz que há décadas é responsável pela estagnação do rendimento dos trabalhadores e dos pensionistas e reformados», que «melhore o poder de compra dos salários, das pensões e das reformas» e «eleve o bem estar das famílias portuguesas».