Ratoeiras
Em sentido literal, «ratoeira» é uma «armadilha para caçar ratos». Em sentido mais lato, pode também ser tida como «armadilha para caçar qualquer espécie de animais». Para o caso, tanto faz. O que importa reter é que se trata de uma cilada ou ardil.
Pois foi assim mesmo que Passos Coelho se referiu na passada segunda-feira à proposta do Governo de OE para 2017: um embuste, uma verdadeira «ratoeira», «não está a ser transparente nas previsões que faz para o próximo ano».
Aproveitando os favores duma comunicação social sedenta de fait-divers, perorou o impoluto chefe dum governo especializado na arte do embuste e, portanto em «ratoeiras», que esta proposta de OE está cheia de «truques e várias injustiças».
Sem corar, mostrou a sua indignação por se estar a institucionalizar e a tornar permanente uma austeridade que era de emergência, temporária. E lamentou a decisão do Governo sobre as pensões, já que, «ao mesmo tempo que acaba com a Contribuição Extraordinária de Solidariedade para pessoas que têm pensões muito elevadas, de muitos milhares de euros, entende que não deve actualizar extraordinariamente as pensões mais baixas, o que é uma coisa que não se percebe».
Mas então não foi o governo PSD/CDS que reduziu o escasso aumento das reformas mais baixas à condição de recurso? Não se preparava a coligação PAF para cortar mais 600 milhões de euros nas pensões? Não criou a sobretaxa do IRS e não se preparava para a tornar um imposto permanente? Não foi o governo PSD/CDS que enquanto conduzia à pobreza milhares de famílias favorecia a formação de fortunas fabulosas? Que aumentou o IRS enquanto fazia descer o IRC? Que cortou nas prestações sociais, feriados e salários enquanto distribuía generosas benesses e prebendas ao grande capital?
Ou será que Passos Coelho só reage deste modo por sentir que a proposta do OE para 2017, apesar das suas insuficiências e limites, continua, com a luta dos trabalhadores e a intervenção do PCP, a repor rendimentos e direitos que o governo PSD/CDS, com ratoeiras e embustes, extorquiu ao povo português?
Com ratoeira ou sem ratoeira, como diz o povo, «rato que não conhece um buraco depressa é caçado».