Injustiça continua por reparar
Ainda não foi desta que se fez justiça aos docentes com 40 anos de descontos reconhecendo-lhes o direito de aposentação sem penalizações. Diplomas nesse sentido do PCP e do PEV foram inviabilizados, dia 20, no Parlamento, mas ficou a garantia de que a luta por esse objectivo não irá parar.
É com a luta que se defende e conquista os direitos
LUSA
Os dois projectos de resolução, que estiveram em debate conjuntamente com uma petição dinamizada pela Fenprof que reuniu dezenas de milhares de assinaturas, obtiveram os votos favoráveis dos seus proponentes e do BE, a abstenção do PAN, e os votos contra de PS, PSD e CDS.
No final, das galerias, vieram expressões de repúdio pelo desfecho da votação que impede desde já a correcção dessa tremenda injustiça que é alguém - seja docente, educador de infância, operário têxtil, assistente operacional, electricista, enfermeiro, ou qualquer outra profissão, como assinalou a deputada comunista Diana Ferreira -, depois de 40 anos de descontos, ser obrigado a «continuar a trabalhar para sobreviver até chegar à idade legal de reforma».
O texto da bancada ecologista advogava um regime transitório para a aposentação de professores e educadores, «com vista a criar justiça no regime de aposentação», enquanto que a proposta comunista tinha um sentido mais abrangente, recomendando ao Governo a «possibilidade de aposentação aos 40 anos de descontos sem penalizações e a aplicação de regimes de aposentação relativos a situações específicas» (ver caixa).
«É amplamente reconhecido o desgaste físico e psicológico que os educadores de infância e os professores sofrem ao longo das suas carreiras e que este desgaste, por um lado, conduz a uma enorme pressão e sobrecarga sobre o docente e, por outro lado, leva a que se comprometa não só a qualidade da prática pedagógica, como em última consequência a qualidade do próprio ensino», lê-se no projecto de resolução apresentado pelo PCP.
Por reformas dignas
No debate, Diana Ferreira sustentou que as longas carreira contributivas (de todos os sectores de produção e actividade) correspondem no fim de contas a uma longa vida de trabalho e descontos e, como tal, devem ser devidamente reconhecidas, designadamente no que se refere aos direitos que lhes estão associados seja em matéria de idade de reforma seja no direito a uma reforma e pensão dignas».
Daí o PCP entender, ele que sempre defendeu a valorização das longas carreiras contributivas, que é da «mais elementar justiça» que não haja penalizações aos trabalhadores que pretendam reformar-se após cumpridos 40 anos de descontos.
A Federação Nacional dos Professores (FENPROF), reagindo no próprio dia do debate e votação dos dois projectos de resolução, fez saber que os professores não desistirão desta sua «justa pretensão», prometendo «continuar a luta», que deverá passar no próximo ano lectivo por «manifestações diversas junto não apenas do Governo mas também dos partidos que apoiaram a posição contra os professores».
«Nas regiões, é altura de os professores se dirigirem aos deputados eleitos pelo respectivo círculo eleitoral, desde logo os que são professores, para os confrontarem com a posição que assumiram», refere a Fenprof no comunicado.
As propostas do PCP
Quem queira reformar-se após cumpridos 40 anos de trabalho deve poder fazê-lo sem qualquer penalização. Este é um princípio de elementar justiça, na perspectiva do PCP, que, por outro lado, defende que a realidade laboral específica deve ser levada em conta para efeitos de reforma.
Essa é a matriz que perpassa o diploma comunista agora chumbado, onde, entre outras recomendações ao Governo, estava a possibilidade de antecipação da idade de acesso à pensão de velhice, sem penalizações, para todos os trabalhadores que tenham completado os referidos 40 anos de descontos.
Proposto era também que o Executivo avaliasse o impacto da eliminação dos regimes especiais de aposentação e da fixação das novas regras.
Defendida no texto era também a hipótese de considerar a aplicação de regimes específicos de aposentação, designadamente de trabalhadores da Administração Pública, incluindo os docentes, «identificando as medidas e condições necessárias à sua concretização».