Ainda as sanções
O alarido que, mais ou menos justamente, fez correr, nos últimos dias, rios de tinta na comunicação social portuguesa merece, para lá de abordagens mais profundas, três anotações que cabem neste espaço de opinião.
Parece, em primeiro lugar e para começo de conversa, que estamos todos contra as sanções e a remar para o mesmo lado. Nada mais falso. Basta ver o texto de Passos Coelho, justificando a sua aplicação, num diário, ou as declarações da ex-ministra das Finanças, afirmando que, com ela, não haveria lugar a sanções, para se perceber que eles não apenas as aceitam como estão de acordo com elas e até as desejam.
Para o PSD e CDS tudo serve para prolongar o rasto de exploração, de empobrecimento, de submissão de que eles foram os expoentes máximos e por esta via julgam poder prolongar.
As sanções, segundo aspecto, parecem estar a servir aqui de engodo para desviar as atenções de um conjunto de outras medidas, umas que já têm vindo a ser anunciadas e outras que virão no pacote das exigências para que as sanções não sejam aplicadas. Seja a flexibilidade das leis laborais, despedimentos na Administração Pública, redução de rendimentos dos trabalhadores, aumento do horário de trabalho, cortes nas pensões e prestações sociais, sejam medidas para a privatização da Caixa Geral de Depósitos em que PSD e CDS andam visivelmente apostados – vamos ouvi-los dizer «basta fazerem estes ajustes e nada de mal vos acontecerá». Não conhecêssemos nós já o que esses ajustes significam na vida dos trabalhadores e do povo!
Por fim, mas não menos importante, por todas as declarações de altos dirigentes da União Europeia, na verdade tais sanções, se fossem aplicadas, nada teriam que ver com o défice de 2015 ou com a execução orçamental. Elas seriam, isso sim, a acusação a um caminho diferente daquele que nos trouxe a esta situação de desastre. O ajuste de contas com as opções soberanas dos portugueses. Seriam o selo que indicaria que eles não admitem qualquer medida, por muito limitada que seja, a favor dos trabalhadores e do povo.
Hoje, como ontem, enganam-se. Cá estaremos para afirmar a nossa soberania e o nosso inalienável direito ao desenvolvimento e ao progresso.