Ainda as sanções

João Frazão

O ala­rido que, mais ou menos jus­ta­mente, fez correr, nos úl­timos dias, rios de tinta na co­mu­ni­cação so­cial por­tu­guesa me­rece, para lá de abor­da­gens mais pro­fundas, três ano­ta­ções que cabem neste es­paço de opi­nião.

Pa­rece, em pri­meiro lugar e para co­meço de con­versa, que es­tamos todos contra as san­ções e a remar para o mesmo lado. Nada mais falso. Basta ver o texto de Passos Co­elho, jus­ti­fi­cando a sua apli­cação, num diário, ou as de­cla­ra­ções da ex-mi­nistra das Fi­nanças, afir­mando que, com ela, não ha­veria lugar a san­ções, para se per­ceber que eles não apenas as aceitam como estão de acordo com elas e até as de­sejam.

Para o PSD e CDS tudo serve para pro­longar o rasto de ex­plo­ração, de em­po­bre­ci­mento, de sub­missão de que eles foram os ex­po­entes má­ximos e por esta via julgam poder pro­longar.

As san­ções, se­gundo as­pecto, pa­recem estar a servir aqui de en­godo para des­viar as aten­ções de um con­junto de ou­tras me­didas, umas que já têm vindo a ser anun­ci­adas e ou­tras que virão no pa­cote das exi­gên­cias para que as san­ções não sejam apli­cadas. Seja a fle­xi­bi­li­dade das leis la­bo­rais, des­pe­di­mentos na Ad­mi­nis­tração Pú­blica, re­dução de ren­di­mentos dos tra­ba­lha­dores, au­mento do ho­rário de tra­balho, cortes nas pen­sões e pres­ta­ções so­ciais, sejam me­didas para a pri­va­ti­zação da Caixa Geral de De­pó­sitos em que PSD e CDS andam vi­si­vel­mente apos­tados – vamos ouvi-los dizer «basta fa­zerem estes ajustes e nada de mal vos acon­te­cerá». Não co­nhe­cês­semos nós já o que esses ajustes sig­ni­ficam na vida dos tra­ba­lha­dores e do povo!

Por fim, mas não menos im­por­tante, por todas as de­cla­ra­ções de altos di­ri­gentes da União Eu­ro­peia, na ver­dade tais san­ções, se fossem apli­cadas, nada te­riam que ver com o dé­fice de 2015 ou com a exe­cução or­ça­mental. Elas se­riam, isso sim, a acu­sação a um ca­minho di­fe­rente da­quele que nos trouxe a esta si­tu­ação de de­sastre. O ajuste de contas com as op­ções so­be­ranas dos por­tu­gueses. Se­riam o selo que in­di­caria que eles não ad­mitem qual­quer me­dida, por muito li­mi­tada que seja, a favor dos tra­ba­lha­dores e do povo.

Hoje, como ontem, en­ganam-se. Cá es­ta­remos para afirmar a nossa so­be­rania e o nosso ina­li­e­nável di­reito ao de­sen­vol­vi­mento e ao pro­gresso.

 



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