Hão-de ir longe...
O novo entretém do comentário português e arredores (entendendo-se por arredores a Europa de que somos o rosto, como dizia Pessoa) é a «decisão de Bruxelas» sobre o «castigo» a aplicar, ou não, a Portugal e Espanha por «défice excessivo» registado em 2015.
Com arrogância e desplante, os próceres do eurogrupo fazem jogadas de intimidação, como os croupiers dos casinos fazem les jeux com a antecipada garantia de que a vitória é sempre da casa.
A liderar a arrogância surgiu Wolfgang Schauble, esse homem fatal que se julga e actua como ministro das Finanças da União Europeia.
«Portugal pediu novo resgate e tê-lo-á, mas tem de respeitar os compromissos», disse o homem, mais coisa menos coisa, numa alocução sem pingo de vergonha mas que toda a gente explora seriamente, pois vem da luciferina figura – papel a que a criatura parece esfregar as mãos de contente, de olho coruscante e riso sardónico, como nas personagens maléficas.
Também sem pingo de vergonha, como é hábito em Maria Luís Albuquerque, surge a ex-ministra das Finanças no palanque do «neo-PSD» (como lhe chama José Pacheco Pereira) a garantir que, com ela a governar, «Bruxelas não estaria a fazer estas exigências», inferindo o desplante de que a política agachada do PSD/CDS face à Alemanha e comparsas é que devia continuar a destruir o nosso País e, no entrementes, escancarando a viperina obsessão do seu ex-aluno e ex-chefe de governo, Passos Coelho, de «as exigências de Bruxelas» porem termo ao XXI Governo constitucional, liderado por António Costa.
Aliás, as «recomendações à Schauble» vindas dos organismos de Bruxelas e direccionadas a Portugal parecem dizer que a União Europeia não tem mais nada com que se preocupar, apesar do Brexit que pôs a UE de pantanas, de a Hungria já prender refugiados, de a França estar no mesmo incumprimento de que acusam Portugal e Espanha e, the last but not the least (já que gostam tanto de inglesadas), de as Finanças alemãs e o Banco Central germânico terem sido postos em causa por agências de notação financeira norte-americanas.
Isto para já, porque a instabilidade, alimentada pelo descontentamento que cresce e alastra pela União Europeia, ameaça resvalar para o descalabro, com as consequências imprevisíveis que daí virão.
Perante todo este quadro de instabilidade e crise, os senhores que mandam na União Europeia continuam a não tirar conclusões nem a procurar estratégias que aproximem a UE dos seus países e cidadãos.
A única coisa que parece inquietar os Schaubles é o cumprimento de duas décimas do défice em Portugal.
Hão-de ir longe...