Hão-de ir longe...

Henrique Custódio

O novo entretém do comentário português e arredores (entendendo-se por arredores a Europa de que somos o rosto, como dizia Pessoa) é a «decisão de Bruxelas» sobre o «castigo» a aplicar, ou não, a Portugal e Espanha por «défice excessivo» registado em 2015.

Com arrogância e desplante, os próceres do eurogrupo fazem jogadas de intimidação, como os croupiers dos casinos fazem les jeux com a antecipada garantia de que a vitória é sempre da casa.

A liderar a arrogância surgiu Wolfgang Schauble, esse homem fatal que se julga e actua como ministro das Finanças da União Europeia.

«Portugal pediu novo resgate e tê-lo-á, mas tem de respeitar os compromissos», disse o homem, mais coisa menos coisa, numa alocução sem pingo de vergonha mas que toda a gente explora seriamente, pois vem da luciferina figura – papel a que a criatura parece esfregar as mãos de contente, de olho coruscante e riso sardónico, como nas personagens maléficas.

Também sem pingo de vergonha, como é hábito em Maria Luís Albuquerque, surge a ex-ministra das Finanças no palanque do «neo-PSD» (como lhe chama José Pacheco Pereira) a garantir que, com ela a governar, «Bruxelas não estaria a fazer estas exigências», inferindo o desplante de que a política agachada do PSD/CDS face à Alemanha e comparsas é que devia continuar a destruir o nosso País e, no entrementes, escancarando a viperina obsessão do seu ex-aluno e ex-chefe de governo, Passos Coelho, de «as exigências de Bruxelas» porem termo ao XXI Governo constitucional, liderado por António Costa.

Aliás, as «recomendações à Schauble» vindas dos organismos de Bruxelas e direccionadas a Portugal parecem dizer que a União Europeia não tem mais nada com que se preocupar, apesar do Brexit que pôs a UE de pantanas, de a Hungria já prender refugiados, de a França estar no mesmo incumprimento de que acusam Portugal e Espanha e, the last but not the least (já que gostam tanto de inglesadas), de as Finanças alemãs e o Banco Central germânico terem sido postos em causa por agências de notação financeira norte-americanas.

Isto para já, porque a instabilidade, alimentada pelo descontentamento que cresce e alastra pela União Europeia, ameaça resvalar para o descalabro, com as consequências imprevisíveis que daí virão.

Perante todo este quadro de instabilidade e crise, os senhores que mandam na União Europeia continuam a não tirar conclusões nem a procurar estratégias que aproximem a UE dos seus países e cidadãos.

A única coisa que parece inquietar os Schaubles é o cumprimento de duas décimas do défice em Portugal.

Hão-de ir longe...

 



Mais artigos de: Opinião

As tropas de Schauble

Wolfgang Schauble, «tesoureiro da UE», apologeta da «prioridade total à estabilidade financeira» e «líder do naufrágio» anunciado do Deutsche Bank (que segundo o FMI é o maior risco sistémico mundial), é um famigerado «democrata...

Ainda as sanções

O alarido que, mais ou menos justamente, fez correr, nos últimos dias, rios de tinta na comunicação social portuguesa merece, para lá de abordagens mais profundas, três anotações que cabem neste espaço de opinião. Parece, em primeiro lugar e para...

Se cá nevasse...

A vice-presidente do PSD Maria Luís Albuquerque teve a semana passada um inesperado ataque de sinceridade que me deixou, confesso, de queixo caído. É certo que se tratou de uma verdade de La Palice, uma autêntica lapaliçada, como soe dizer-se, mas ainda assim não deixa de...

Festa única

Estamos já a menos de dois meses da Festa do Avante!, numa fase essencial e decisiva da sua preparação, onde, entre os múltiplos aspectos que concorrem para a sua realização, assumem particular importância a participação na construção da Festa com a mobilização para as jornadas de trabalho e a sua divulgação, promoção e a venda da EP.

O <i>Brexit</i> e a NATO

Eles estão surpreendidos e desorientados. O grande capital financeiro sofreu na Grã-Bretanha uma derrota histórica. As ingerências e pressões de todo o tipo sobre o povo britânico fracassaram. Nem o vergonhoso acordo da União Europeia com Cameron contra os direitos dos...