Confiança e futuro
Recusar fatalismos e intervir para transformar a realidade foram decisões reafirmadas na X Assembleia da Organização Regional de Castelo Branco, na qual o Secretário-geral do PCP proferiu o discurso de encerramento dos trabalhos.
O fortalecimento do PCP é condição essencial
A assembleia magna dos comunistas albicastrenses, realizada na tarde de sábado, 21, nas instalações do Instituto Português da Juventude em Castelo Branco, decorreu sob o lema «Com o PCP, luta e confiança – um distrito com futuro», concluindo quatro meses de discussão e elaboração de propostas e direcções de trabalho.
Sem menosprezar os efeitos da interioridade agravados sobremaneira pela política de direita, bem como as consequências locais dos constrangimentos impostos pela UE – e muito menos as insuficiências detectadas na acção e influência do PCP no distrito –, o que sobressaiu nos trabalhos foi a sólida confiança no futuro.
Confiança assente não apenas no conhecimento da realidade concreta, das suas dificuldades e potencialidades, mas também, e sobretudo, na determinação e capacidade do Partido de sobre ela agir – reforçado, ligado aos trabalhadores e ao povo, às suas necessidades, aspirações e anseios.
Os trabalhos traduziram, por isso, não a identificação de fatalismos e impossibilidades, mas a vontade de intervir definindo prioridades e objectivos que se pretende alcançar com trabalho e audácia, o que, aliás, está plasmado na resolução política votada favoravelmente por todos os delegados.
O tom construtivo ressaltou desde logo no discurso de abertura da Assembleia, efectuado por Patrícia Machado. A responsável da ORCB e membro da Comissão Política (que se fez acompanhar na mesa da iniciativa por membros dos organismos executivos regionais, e por Alexandre Araújo, do secretariado do Comité Central, e Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do Partido), começou por dar nota da situação no distrito, sublinhando o seu envelhecimento, o isolamento determinado pela «cara mobilidade e escassez de transportes»; o desemprego, os baixos salários, a precariedade e a destruição de postos de trabalho; a degradação dos serviços públicos, a falta de investimento e o desaproveitamento dos jovens formados na Universidade da Beira Interior e no Instituto Politécnico de Castelo Branco.
Tal não é porém imutável, acredita o Partido, para quem, expressou Patrícia Machado, se impõe, entre outras medidas, o aproveitamento do «potencial industrial, turístico e da indústria extractiva», da agricultura e silvicultura, a ligação «do conhecimento ao desenvolvimento regional», a valorização do património cultural e ambiental».
Na construção do futuro conta, e muito, ainda, o papel do PCP e a luta dos trabalhadores e das populações, acrescentou. Luta que precisa de «ir mais longe», disse, exemplificando com a continuação da defesa da abolição das portagens na A23, pese embora ter já sido conquistada a sua diminuição, com a exigência da reposição das freguesias ou da alteração do mapa judiciário imposto pelo governo PSD/CDS.
Pedra de toque
Para cumprir aqueles desígnios, o fortalecimento do PCP é condição essencial. Reforço do Partido que esteve presente no documento central discutido e aprovado, e nas cerca de 25 intervenções realizadas na Assembleia. No texto e nas palavras dos delegados sobressaem os passos dados ao nível partidário (mais três organismos a funcionar do que em 2013) e na intervenção dos comunistas (nas autarquias, no movimento sindical unitário, junto de camadas e sectores sociais e frentes de trabalho específicas – os reformados ou as mulheres foram destacados –, nas autarquias). Projecta-se, também, medidas e orientações destinadas a elevar a militância, estruturar a direcção sobretudo no plano das células de base; recrutar e integrar e responsabilizar mais quadros por tarefas regulares; avançar na capacidade financeira própria, incrementar a consciência política e ideológica e a venda e difusão da imprensa partidária, assim como a participação na vida quotidiana do Partido.
A prioridade entre as prioridades vai, porém, para a ligação às massas (a organização é um instrumento, frisou-se), e, neste particular, à classe operária e aos trabalhadores.
No distrito de Castelo Branco, os comunistas sabem que impera a sobre-exploração nos sectortes público e privado. Caso paradigmático é o facto de existirem cinco centros de contacto envolvendo cerca de dois mil trabalhadores, na sua maioria precários, mas nas administração central e local a situação não é muito melhor, fruto da intensa ofensiva anti-laboral imposta por sucessivos governos e em especial pelo executivo Passos/Portas.
No entanto, a experiência registada nos últimos anos corrobora a ideia-chave de que é possível organizar e lutar (a Covibus, empresa de transportes privada onde os trabalhadores, depois de se sindicalizarem em massa e elegerem delegados sindicais, já alcançaram importante vitórias), e de que é igualmente possível criar células do Partido nas empresas e locais de trabalho, onde pulsa com mais força a luta de classes.
Intervenção de Jerónimo de Sousa
Contributo fundamental
A encerrar a AORCB do PCP, o Secretário-geral do PCP realçou e valorizou a resposta dada na Assembleia «à situação do distrito com linhas de trabalho e propostas amplamente desenvolvidas nos mais diversos domínios e que são, sem dúvida, uma valiosa contribuição dos comunistas para a solução dos problemas das populações e desta região».
Numa intervenção em que acusou «o grande capital nacional e transnacional e as forças políticas que os servem, na União Europeia e aqui em Portugal» de insistirem nas ameaças e na chantagem para obrigar ao prosseguimento da política que, nos últimos anos, «serviu sempre para aumentar a exploração dos trabalhadores e do nosso povo e acabou por agravar mais e mais a situação económica e social do País e a enorme dívida que carrega», Jerónimo de Sousa realçou que estamos perante uma «opção decisiva: ou o País cria condições para crescer e desenvolver-se, levando a cabo políticas que respondam aos principais problemas nacionais, ou cede às pressões, com o que representariam de ainda mais declínio e retrocesso».
Da parte do PCP, a opção é clara, e foi nesse contexto que o Partido contribuiu para esta «nova fase da vida política nacional», em que, disse, «são já evidentes as vantagens que resultam da nossa iniciativa que conduziu à “Posição conjunta do PS e do PCP”».
O Secretário-geral comunista detalhou as medidas e sinais positivos e reconheceu que «falta ainda bastante caminho a percorrer para repor direitos e rendimentos», que é possível ir mais longe e lembrou, por isso, as iniciativas do PCP em matérias que corroboram que o compromisso do PCP é com os trabalhadores, o povo e o País.
Defendeu, no entanto, que «estas medidas que têm um alcance limitado, mostram uma direcção que é preciso prosseguir com coragem e determinação – a inversão das políticas de exploração, empobrecimento e retrocesso social», lembrando, por isso, que «como aqui vieram exemplos, a luta que os trabalhadores e o nosso povo têm travado valeu e vale a pena continuar, para garantir um Portugal de progresso e de justiça social».
Nova Direcção
Sensivelmente a meio dos trabalhos da Assembleia, os delegados discutiram e elegeram, por unanimidade, a Direcção da Organização Regional de Castelo Branco do PCP. O novo organismo reflecte, por um lado, um esforço de renovação e rejuvenescimento caldeado com a manutenção de quadros experimentados (dos 29 membros, oito integram pela primeira vez a DORCB, sendo que destes, cinco têm menos de 45 anos), e, por outro, o reforço da ligação do Partido à classe operária e aos trabalhadores: metade dos novos membros são operários e empregados.
A maioria de operários e empregados é reforçada na DORCB que entra agora em funções (13 em 29 ou 44,8 por cento), assim como o número e percentagem de mulheres (9 e 31 por cento). Integram ainda o organismo de direcção, cuja média de idades é de 57,5 anos, 11 quadros técnicos e intelectuais, um agricultor, três micro, pequenos e médios empresários, e um estudante.