Barroso
Durão Barroso deu uma entrevista ao Expresso e declarou, em relação à «cimeira das Lajes» de 2003, onde foi o mordomo da reunião que decidiu a invasão (e a guerra) do Iraque, que «a única pessoa que eu consultei antes de tomar a decisão final» foi o então Presidente da República, Jorge Sampaio, acrescentando que contou, para essa «decisão final», «com o apoio do parlamento português e com o apoio do Presidente da República, o dr. Jorge Sampaio, que expressamente disse que sim, que concordava».
Sampaio desmentiu-o com factos.
Depois de esclarecer que «não cabe ao Presidente autorizar ou deixar de autorizar actos de política externa», Sampaio informou que Durão Barroso lhe tinha telefonado às sete da manhã de 14 de Março de 2003 para marcar uma reunião de urgência e «para minha estupefacção tratava-se de me informar que havia sido consultado sobre a realização de uma cimeira nos Açores», coisa que foi igualmente anunciada em Washington no mesmo dia, pela Casa Branca.
Sampaio ponderou ainda que «eventos deste tipo não se organizam num abrir e fechar de olhos», especificando que disse a Durão «nada ter a opor» visto que este lhe garantira tratar-se de «uma derradeira e essencial tentativa para a paz e evitar a guerra no Iraque».
Viu-se: dois dias depois a «cimeira dos Açores» decidiu a guerra e quatro dias depois começou a invasão militar do Iraque.
Mais acrescentou Sampaio que o Presidente não tem que «acatar passivamente decisões assumidas pelo Governo» e concluiu que «teve um papel equilibrado», visto que evitou abrir um conflito institucional e impediu que militares portugueses fossem enviados para o Iraque.
Barroso sempre se afadigou por um lugarzinho na História, como se viu no discurso gongórico acerca de si próprio, feito ao Expresso.
Tem passeado «um perfil», que pretende «de estadista» e cinzela com minúcia desde que deixou as arruaças do MRPP e se focou na «pose de Estado» duma «carreira de político» no PSD.
Procura agora convencer-se que conquistou tudo o que havia a conquistar: primeiro-ministro em Portugal e presidente da Comissão Europeia durante 10 anos.
Não lhe agita a consciência ter abandonado o governo do País a meio do mandato, para ocupar a presidência da CE que lhe ofereceram como última escolha e onde teve um protagonismo insignificante e medíocre.
Mas exibe a empáfia de quem se vê, «em mármore imortal», projectado na eternidade.
Engana-se. O que os seus contemporâneos eternizam é que ele abandonou o País «de tanga» por um tacho europeu, onde o que soube dizer a Portugal foi que, se não cumprisse as metas do défice, «estava o caldo entornado».
Lembrá-lo-ão sempre assim, até o esquecerem completamente.