Vergonha ou... a falta dela
A chicana política montada pelo CDS em torno do Plano Nacional de Reformas e do Programa de Estabilidade visando atingir o PCP, mais do que um suposto embaraço provocado ao Partido, revelam um enorme descaramento de quem, tendo sido responsável por tanto sofrimento do nosso povo, se apresenta agora travestido de paladino da verdade e da justiça.
Vamos aos factos: o PCP sempre considerou que estes instrumentos – o PNR e o PE – impostos pela União Europeia e aceites por PS, PSD e CDS, não só não fazem falta ao País, como são mais um mecanismo de ingerência e submissão do qual Portugal se terá de libertar. Assim foi no passado e assim é agora, pelo que, caso estes documentos fossem sujeitos a votação na AR – o que não se verificou – não poderiam ser acompanhados pelo PCP. E, pela mesma razão, não só não apresentou qualquer proposta alternativa à do Governo, como votou contra as propostas apresentadas na AR, quer por PSD quer por CDS.
Não há, nem poderia haver nenhuma novidade nesta nossa posição que não altera as questões de fundo que permitiram a entrada do Governo PS em funções: as profundas diferenças entre o PCP e o PS, designadamente sobre o processo de integração capitalista europeia, não impossibilitaram que o PCP se empenhasse em afastar o governo PSD/CDS, travar a marcha forçada da exploração e empobrecimento e não desperdiçar nenhuma oportunidade para repor e conquistar direitos. E ao mesmo tempo afirmar a exigência da ruptura com a política de direita que abra caminho a uma política alternativa patriótica e de esquerda. Ou seja, o PNR e o PE, são da responsabilidade do Governo PS e nada mais!
Quis o CDS encontrar aí um filão que, ao jeito de Portas, mas já com a candura de Cristas, funcionasse como um branqueador das responsabilidades deste partido na política que arrasou direitos e condições de vida nestes últimos anos, política essa que não só queriam ver absolvida, como efectivada, caso tivessem a possibilidade que o povo lhes recusou.
Diz Cristas que o PCP teve «vergonha» na forma em como votou o projecto do CDS. Francamente, vergonha é andar há mais de 40 anos a receber o voto dos pobres para encher a barriga dos ricos!