Luta alarga-se em França
Apesar da chuva e do frio, trabalhadores, desempregados, estudantes e pensionistas saíram às ruas em 250 cidades de França para exigir a retirada da «lei do trabalho».
Acções contra o código do trabalho vão prosseguir
Com 160 mil em Paris, 120 mil em Marselha e cem mil em Toulouse, pelo menos 1,2 milhões de pessoas manifestaram-se, dia 31, por toda a França, em repúdio pelo retrógrado projecto de lei do trabalho, apresentado pelo governo socialista de Hollande-Valls.
A adesão à jornada de greves e manifestações, convocada pela CGT, FO, FSU, Solidaires e um conjunto de organizações de juventude, suplantou largamente a mobilização de 9 de Março, na qual participaram cerca de meio milhão de pessoas.
É certo que nem todas as centrais sindicais apoiaram o dia de luta, circunstância aproveitada pela ministro do Trabalho, Myriam El Khomri, para afirmar que «não existe uma frente sindical unida» nas manifestações.
Todavia, como observou o jornal L´Humanité, mesmo as centrais que se puseram de fora mantêm críticas ao projecto do governo, como é o caso da CFDT, da Unsa e da CFE-CGC.
Por outro lado, a posição ambígua das direcções destas estruturas não foi seguida em várias organizações regionais e por muitos activistas, que optaram por fazer greve e participar activamente nas manifestações, com os elementos distintivos dos sindicatos a que pertencem.
País paralisado
Desde 2010 que não se verificava uma jornada de luta em França com uma dimensão semelhante. Na altura tratava-se de travar uma lei de Sarkozy que aumentava a idade da reforma. Mais de um milhão de trabalhadores saíram às ruas.
No dia 31, as greves em todos os sectores paralisaram grande parte das actividades económicas, serviços públicos, escolas e universidades. A paragem dos transportes públicos provocou filas de trânsito que se estenderam por 350 quilómetros na região de Paris. O cenário repetiu-se em muitas outras cidades. As autoridades contabilizaram mais de 600 quilómetros de engarrafamentos.
A greve paralisou igualmente as grandes empresas gráficas, impedindo a saída dos diários de grande circulação, que ofereceram gratuitamente os seus conteúdos através da Internet.
Numerosos voos foram cancelados, bem como parte das ligações ferroviárias, incluindo os comboios de alta velocidade. Não houve distribuição postal e os hospitais funcionaram a meio gás.
Hollande debilitado
Apesar da dimensão dos protestos, os maiores em todo o mandato presidencial, o primeiro-ministro, Manuel Valls, declarou que a proposta de lei não será retirada e que o parlamento fará um bom texto com «boas medidas».
A insistência do governo num texto que destrói o horário a 35 horas, facilita os despedimentos e ataca a contratação colectiva exaspera os sindicatos e acentua do descrédito do presidente François Hollande.
Segundo as últimas sondagens, Hollande não passaria à segunda volta caso as eleições se realizassem agora. Apenas 16 por cento dos franceses votariam no chefe do Estado, contra 27 por cento de intenções de votos para dirigente da extrema-direita Marine Le Pen e 21 por cento para o conservador Nicolas Sarkozy.
Depois de ter fortemente recuperado após os atentados de Paris, Hollande bate todos os recordes de impopularidade no último ano do seu mandato.