Créditos
Maria Luís Albuquerque anda nas bocas do mundo e foi ela que lá se meteu, ao aceitar um cargo de administração na Arrows Global, um «fundo abutre» especializado em «negociar investimentos tóxicos», como até há quatro meses o fazia em Portugal, comprando crédito mal-parado do Banif (entre outras instituições bancárias portuguesas) e negociando com a mesma Maria Luís Albuquerque, então ministra das Finanças. Acresce que, aos cinco mil euros que vai usufruir mensalmente, por dois/quatro dias de trabalho/mês na Arrows, Maria Luís quer acrescentar os três mil e quatrocentos euros que ganha como deputada do PSD.
O escândalo é tão flagrante, que Manuela Ferreira Leite já afirmou tratar-se de uma «ausência total de bom senso», acrescentando que «ela tutelou, no mínimo tutelou, a instituição financeira (portuguesa e estatal) que teve ligações com essa empresa e ligações prejudiciais para o País».
O caso, entretanto, está a levantar celeuma na Assembleia da República, onde se fala abertamente de incompatibilidades, e encaminha-se para ser examinado pela subcomissão de Ética da AR.
Todavia, nada disto é novidade ou surpresa. O governo de Passos e Portas foi uma longa pretensão de gola-alta a esconder a maltrapilhagem política, ética e moral do conjunto de personagens que o enformou, cavalgando as vantagens e benefícios dos cargos públicos com a desfaçatez dos casos de polícia.
A própria Maria Luís Albuquerque mostrou a fibra de que era feita – a de alguém que não perde «uma oportunidade» que a possa beneficiar – ao aceitar, em 1 de Julho de 2013, substituir na pasta das Finanças o ministro Vítor Gaspar, seu superior hierárquico no Ministério, que se havia demitido declarando taxativamente que «se enganara» na política económica que até aí seguira. Maria Luís não se enganou e colheu o tacho que lhe oferecia o seu ex-aluno na Lusíada, Pedro Passos Coelho.
O próprio Passos Coelho, de conluio com o seu amigo Miguel Relvas, constituíram o «par maravilha» que ascenderia ao poder no partido e depois no País, após um trajecto tortuoso onde o episódio Tecnoforma é apenas um marco, enquanto atamancavam uma licenciatura nas «universidades privadas» (também alfobre para os talentos pedagógicos de Maria Luís Albuquerque, professora de Passos Coelho), com Miguel Relvas a ser demitido do governo e da «licenciatura», anulada por manifesta falta de créditos.
Passos Coelho, que anda por aí garganteando em soprano e de bandeira na lapela a pose empalhada de primeiro-ministro, achou que não há «nenhum problema de incompatibilidade» nem «nenhum problema de ética» na ida de Maria Luís Albuquerque para a Arrows.
Ah pois não.
O extraordinário é Passos Coelho supor que ainda tem crédito no País.