Outras «torres gémeas»

Filipe Diniz

Ao que parece, mais um gigante bancário – o Deutsche Bank – está a caminho de se afundar. Tem quase século e meio de história. Lénine menciona-o no texto fundamental sobre o imperialismo: é um exemplo paradigmático de como o monopólio surge dos bancos que «de modestas empresas intermediárias que eram antes, se transformaram em monopolistas do mercado financeiro». A história do DB é a história exemplar do capital monopolista. Do processo de centralização do capital, incluindo pelos meios do nazi-fascismo: após a ascensão dos nazis ao poder, o DB «arianizou», ou seja confiscou, 363 empresas propriedade de capitalistas judeus.

Foi e é um dos pilares da financeirização e da espiral especulativa do capitalismo, central na sua actual crise geral. «Fortemente exposto às dívidas de países periféricos, teve o apoio do governo alemão e do BCE para evitar uma reestruturação da dívida irlandesa e para protelar a reestruturação da dívida grega o tempo suficiente para que pudesse vender os seus títulos (em grande parte, de resto, ao BCE)» (http://www.les-crises.fr/de-quoi-la-deutsche-bank-est-elle-le-nom-par-romaric-godin/). Em finais de 2015 e já este ano veio a sofrer uma forte quebra no valor das suas acções (30% só nas primeiras seis semanas de 2016).

O ministro alemão Schauble, a quem qualquer décima no défice português aflige, já veio afirmar «que não está preocupado». Mesmo que, segundo a Bloomberg, o DB vá ter uma quebra de três por cento em 2016 e de seis por cento em 2017, num total de 3,9 milhares de milhões de euros. Os «mercados», que tanta autoridade presumem para pressionar o nosso País, são aqui postos no devido lugar: a quebra do DB «não é tanto reflexo de um modelo de negócio do banco como o reflexo de um sentimento geral de insegurança nos mercados», diz o CEO. Um banco é mais importante do que um Estado.

Por curiosa coincidência a sede do DB, em Frankfurt, são duas torres gémeas. Duvida-se que o colapso das outras possa ter resultado apenas do impacto de aviões (tanto mais que uma delas ruiu sem ser atingida). Terá havido um qualquer problema na estrutura. No caso da crise do DB também isso sucede: o problema estrutural de um capitalismo apodrecido, tóxico, senil e terminal.

 



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