Os mentirosos

Henrique Custódio

Há precisamente um ano, o governo do PaF produziu legislação arredando o Banco de Portugal da exclusividade de convidar compradores para a aquisição dos activos do Novo Banco, permitindo que a «instituição de transição» (ou seja, a administração de Stock da Cunha) também pudesse promover a venda, coisa que fez rapidamente e com um único cliente, nem mais nem menos do que José Veiga, o empresário dos futebóis e outras jogatanas, que de imediato transferiu 11 dos 14 milhões de euros totais do negócio – tal era a pressa...

Compreende-se: é que, entretanto, José Veiga foi preso por corrupções várias, o que, naturalmente, vai inviabilizar o «negócio» do BES de Cabo Verde.

O que não se compreende é que Passos Coelho tenha legislado, especificamente, para garantir tal negócio a tal freguês e não tenha dito nada sobre o assunto, na entrevista que deu este fim-de-semana ao JN.

Também não disse nada ao Banco de Portugal, a quem, de resto, retirara, com a tal legislação de há um ano, a exclusividade de convidar instituições para a venda do Novo Banco. E foi o próprio BdP a confirmá-lo ao JN, declarando-lhe que só soubera do «negócio Veiga» em Dezembro passado, por via informal, e em Janeiro deste ano, oficialmente.

Tal como não explicou a escandalosa promoção do ex-secretário de Estado Sérgio Monteiro (o da ferocidade privatizadora) a «consultor» pago a peso de ouro para «vender o Novo Banco», coisa que ganha nova luz com estes desenvolvimentos da venda do BES de Cabo Verde (um dos activos do NB) a coincidirem com a ida do senhor para «assessorar» as «vendas do Novo Banco»...

E nem vamos perder tempo com a vida nebulosa do Banco Internacional de Cabo Verde, instituição formada por altos quadros do cavaquismo que já tinham fundado o BPN e que veio a ser envolvida em escândalos vários em processos judiciais, com o seu amigo Miguel Relvas e Dias Loureiro na mistura.

Como se costuma dizer, isto parece andar tudo ligado.

Pelo contrário, Passos Coelho preferiu proferir para o JN patacoadas como a de que o Banif «estava a dar lucro» quando saiu do governo (todos os bancos dão «lucro» com contas marteladas), pelo que «exigia explicações» (!!!) a António Costa, quando o País ainda aguarda explicações dele sobre o seu governo ir atascando milhares de milhões de euros num banco declarado falido por Bruxelas há já três anos...

É neste ponto que estamos, com a estranha omnipresença de Paulo Portas e Passos Coelho nas televisões e jornais.

Portas, a entrar pelas frases adentro com ademanes, flauteia as suas invenções como se acreditasse nelas e, pior, como se acreditasse que as pessoas o levam a sério.

Passos, todo circunspecção, parece julgar-se ainda primeiro-ministro e debita aldrabices como se estivesse a fazer comunicações ao País.

 



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