Líbia, caos e história

Albano Nunes

A Líbia raramente conheceu um momento de sossego

A Líbia voltou recentemente às primeiras páginas dos jornais. Não por se vislumbrar saída para a trágica situação em que a criminosa agressão imperialista de 2011 mergulhou o país. Antes pelo contrário. O que se anuncia agora, a somar às lutas intestinas de seitas criminosas em luta pelo controle das riquezas do país, é a chegada de mais bandos terroristas do auto-denominado «Estado Islâmico» (EI) que na Síria, com o apoio da aviação russa, estão a ser duramente fustigados pelo exército do governo legítimo de Bashar al-Assad. Claro que o imperialismo não abandonou os seus objectivos na Síria como o mostra a escalada intervencionista em curso, com a Turquia a bombardear os curdos sírios que combatem o EI, a Arábia Saudita a preparar-se para enviar tropas para o terreno e a NATO, a pretexto da «crise dos refugiados», a deslocar forças para a região. Mas perante as sérias dificuldades encontradas na Síria, o imperialismo procura reforçar o papel da sua sinistra criatura no processo de desestabilização do Magreb e do continente africano onde ultimamente tem sido particularmente intensa a sua acção subversiva.

Tal como a Síria a Líbia é uma presa que o imperialismo não largará facilmente. As suas riquezas e posição geo-estratégica são demasiado importantes. Além disso a reacção internacional nunca perdoou à Líbia a sua opção pela soberania e o não alinhamento, a utilização dos seus enormes recursos petrolíferos para o desenvolvimento do país e, apesar de sérias contradições, a sua posição solidária com a Palestina ou por uma «unidade africana» fora do controlo imperialista.

A Líbia tornou-se no início do século XX uma colónia italiana e durante a Segunda Guerra Mundial foi palco de importantes batalhas contra as hordas nazis. Após a Vitória, e apesar de lhe ter sido reconhecida em 1951 a independência com a imposição de uma monarquia reaccionária, a Líbia ficou praticamente sob tutela da Grã-Bretanha, que aí instalou, tal como noutros pontos do Mediterrâneo, de Gibraltar a Chipre, bases militares para impor a sua hegemonia numa vasta área de enorme importância estratégica em termos de rotas marítimas e riquezas naturais, e para fazer frente ao ascenso do movimento de libertação nacional dos povos árabes e africanos. Foi neste contexto que em 1 de Setembro de 1969 um grupo de jovens oficiais dirigidos pelo então capitão Muammar Kadhafi derrubou a monarquia e proclamou a República Árabe Líbia, expulsou os militares britânicos e norte-americanos, nacionalizou o petróleo e tomou outras medidas anti-feudais e de carácter progressista.

Desde que se constituiu como país independente a Líbia raramente conheceu um momento de sossego. O imperialismo, utilizando os mais variados pretextos, tudo fez para derrubar o seu regime, indo ao ponto de bombardear Tripoli e Bengazi para assassinar Kadhafi. Finalmente, tirando partido de hesitações e contradições da direcção líbia não hesitou em recorrer à NATO para a guerra de agressão que destruiu o país.

 



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