Os campeões da dependência

Margarida Botelho

A de­ma­gogia em torno da «in­de­pen­dência» re­la­ti­va­mente aos par­tidos não é nova. Tem um dos seus ex­po­entes má­ximos em Ca­vaco, que se apre­senta sempre como fora ou acima da po­lí­tica. Tem de­cli­na­ções di­versas no en­deu­sa­mento de listas de ci­da­dãos elei­tores, na li­mi­tação de man­datos nas au­tar­quias lo­cais ou no ataque às ju­ven­tudes par­ti­dá­rias. Ex­pressa-se em re­gu­la­mentos in­cons­ti­tu­ci­o­nais que proíbem pro­pa­ganda ou ini­ci­a­tivas par­ti­dá­rias em equi­pa­mentos mu­ni­ci­pais, ou em zonas in­teiras das ci­dades, mas também em es­colas, as­so­ci­a­ções ou es­paços co­mer­ciais que tratam a «po­lí­tica» como coisa suja, que pode e deve ser afas­tada. Ali­menta-se de uma cam­panha per­sis­tente e com múl­ti­plas formas que afirma que os par­tidos são todos iguais. Uma cam­panha com in­dis­far­çá­veis con­tornos an­ti­de­mo­crá­ticos.

Nestas elei­ções pre­si­den­ciais, esta de­ma­gogia atingiu um pa­tamar novo. Pra­ti­ca­mente todos os can­di­datos se apre­sentam como o mais in­de­pen­dente dos in­de­pen­dentes. Mar­celo Re­belo de Sousa es­conde o apoio do CDS e do PSD o mais que pode, e os can­di­datos da área do PS pa­recem dis­putar o lugar de menos apoiado pelo Par­tido So­ci­a­lista. É uma ati­tude hi­pó­crita, vinda de gente com dé­cadas de per­curso nas fi­leiras dos seus res­pec­tivos par­tidos, que pro­cura es­conder as res­pon­sa­bi­li­dades de PS, PSD e CDS no es­tado a que o País chegou. Uma ati­tude que tenta mas­carar o pro­fundo com­pro­misso com os in­te­resses do grande ca­pital que as bi­o­gra­fias de al­guns can­di­datos de­mons­tram.

Em com­pleto con­tra­ponto, apre­senta-se a can­di­da­tura de Edgar Silva. Apoiada pelo PCP, é uma can­di­da­tura franca e trans­pa­rente, que por isso mesmo é limpa e livre. O per­curso de Edgar Silva fala por si em termos de com­pro­misso, de­sas­som­brado e co­ra­joso, com a luta contra a ex­plo­ração, a mi­séria e a opressão, afron­tando os mais po­de­rosos in­te­resses. In­de­pen­dente do grande ca­pital, pro­fun­da­mente com­pro­me­tida com a li­ber­dade, a de­mo­cracia e a Cons­ti­tuição, a can­di­da­tura de Edgar Silva dá corpo ao pro­cesso de luta de eman­ci­pação do povo por­tu­guês. O voto em Edgar Silva não morre no dia 24, não é cir­cuns­tan­cial. É um voto con­se­quente, com os olhos postos no fu­turo.

Voto que não morre dia 24, é pre­ciso para o fu­turo. Não é cir­cuns­tan­cial, é con­se­quente.




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