Agora o BANIF

Vasco Cardoso

Escondida durante largos meses, a situação no BANIF foi deliberadamente ocultada por parte do governo PSD/CDS, com objectivos que são inseparáveis da mistificação e falsificação da realidade (lembram-se da «saída limpa»?) que foram promovendo até serem justamente corridos do governo. Apesar de todo o conhecimento que tinham sobre a realidade deste banco, ou não tivessem lá injectado mais de 700 milhões de euros de recursos públicos para a chamada recapitalização, nada fizeram para impedir que o País fosse agora confrontado com mais um escândalo, em si mesmo resultado da natureza especulativa a que conduz a gestão privada da banca.

No desfecho de cada um destes processos vivenciados pelo povo português nos últimos anos com as situações do BPP, BPN, BES e agora o BANIF, sobra sempre uma certeza: é sobre as costas do povo português que recaem as consequências. E fica sempre uma dúvida: para onde foi, seja sob a forma de dividendos seja pelos múltiplos alçapões que hoje existem no sistema financeiro, o dinheiro?

É certo e sabido que cada processo destes é sempre apresentado como um caso isolado, como uma falha na supervisão, como gestão danosa, como algo que não se voltará a repetir. As soluções aplicadas no quadro da política de direita, variando nos instrumentos e argumentos utilizados, não fogem à mesma matriz: socializam-se os prejuízos e concentra-se ainda mais a actividade bancária nas mãos dos monopólios, em nome da «estabilidade» do sistema financeiro. Pelo que, como já se escreveu e disse outras vezes, sem alterações de fundo, sem a recuperação do controlo público da banca por parte do Estado português, sem a recuperação, em última análise, dos instrumentos de gestão soberana, seja do crédito, seja da moeda, a questão estará sempre em saber quando e onde é que irá rebentar o próximo escândalo.

É por isso que, independentemente da solução que o actual governo PS propôs, que impõe que sejam canalizados mais de 2 mil milhões de euros de recursos públicos para tapar este buraco, sem que seja assegurado o controlo público da parte rentável do BANIF (que será entregue ao Santander/Totta), a questão de fundo persiste: sem ruptura com a política de direita, não há, nem pode haver futuro.

 



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