Fascismo

Ângelo Alves

A notícia passou algo despercebida na comunicação social dominante e não suscitou nem o clamor nem o interesse dos comentadores de serviço. Falamos do facto de o governo dinamarquês querer legalizar o assalto à mão armada. Isso mesmo, o leitor leu bem… assaltos… a estrangeiros que estejam a requerer ou tenham requerido asilo no Reino da Dinamarca.

Mais em concreto: o Ministro da Justiça Søren Pind anunciou que o governo irá propor no Parlamento uma lei que institui o confisco – roubo, portanto – de jóias e dinheiro aos requerentes de asilo. E a explicação do governo é muito clara: «A receita obtida desta forma poderá ser usada para pagar os custos de estadia dos refugiados.» A polícia está a reflectir como vai aplicar a dita «lei», apontando-se para a hipótese de todos os refugiados que cheguem e já estejam na Dinamarca serem revistados, nos seus bens, pertences e roupa.

Perante as críticas, o «democrático» governo dinamarquês tenta sossegar as almas mais inquietas. Já veio a terreiro clarificar que nesses assaltos só se pode «confiscar» bens que tenham um valor superior a 300 euros. E clarifica ainda mais: os requerentes de asilo vão poder ficar com os seus «objectos de valor sentimental», como anéis de noivado ou alianças, e mesmo telemóveis ou relógios, desde que não sejam muito valiosos, lá está.

A história parece irreal de tão escabrosa, mas é bem real. Tal como é real o facto de este ministro da Justiça ser membro do «Venstre», um partido tido como de «centro-direita», o mesmo Partido de Anders Fogh Rasmussen, ex-primeiro ministro da Dinamarca e antigo secretário-geral da NATO, tão admirado e elogiado pelos «líderes» europeus. Os mesmos «líderes» que se reuniram a semana passada no Conselho Europeu e que aprovaram conclusões que tratam os refugiados como uma espécie de «peste», um «perigo», que se tem de manter o mais afastado possível das «fronteiras europeias».

E para isso tudo vale: muros, arames farpados, novas forças de repressão disfarçadas de «patrulha», campos de concentração, humilhações, expulsões… e, pelos vistos, assaltos. E isso tem um nome… fascismo.




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