O bando dos 100

Margarida Botelho

A Associação de Empresas Familiares lançou um manifesto contra a possibilidade de existir um governo que não seja o do PSD / CDS. Para que a profundidade da iniciativa se clarifique bem, importa esclarecer que entre os subscritores se incluem empresários de grupos como a Teixeira Duarte, os grupos Mello, Amorim, SGC ou Luís Simões. Um determinado tipo de «empresas familiares» – chamemos-lhe assim –, a anos-luz da realidade que milhões de famílias de micro, pequenas e médias empresários vivem.

Nas declarações que deram publicamente, em que esclarecem que o que temem é a participação do PCP e do BE, usaram-se frases como «um balde de água fria», «um murro no estômago», «partidos estatutariamente contra a iniciativa privada», e fizeram-se ameaças veladas, como dizer que esta perspectiva leva a «fazer orçamentos defensivos», «cortar nas expectativas», «adiar contratações».

O presidente da AEP foi ainda mais longe e até dispensa comentários: «O PC é contra o meu ADN – infelizmente. Estive a ler os estatutos e não vejo ali nada que fale de incentivos à inovação ou de políticas de investimento. Sei o que é o PCP e o ódio que tem aos empresários.»

Na mesma linha do Manifesto dos 100, apareceu na mesma semana uma tomada de posição pública do Conselho Consultivo do Fórum para a Competitividade. O seu presidente, Pedro Ferraz da Costa, considerou «criminoso» que se faça uma política económica que fomente a procura interna, porque «rebentará outra vez com as contas externas».

Talvez estes dois exemplos sejam dos mais claros do grau que atingiu a ofensiva ideológica e anticomunista durante o último mês: despudorada, de cabeça perdida, sem princípios, a roçar o ridículo. Teve pelo menos a vantagem de se ficar a saber quem são, onde andam e o que pensam os anti-comunistas encartados cá do burgo. E dá para ter um pequeno vislumbre de até onde esta gente é capaz de ir: estamos a tratar da entrada em funções de um governo do PS. Imagine-se a bílis que se produziria e as forças que se convocariam se estivéssemos a tratar de um governo patriótico e de esquerda…




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