Democratas quando convém

Os resultados das eleições de 4 de Outubro foram largamente celebrados pelos comentadores da direita, como se de uma vitória num jogo europeu por golos marcados fora se tratasse. A realidade tratou de demonstrar muito rapidamente que a analogia ao futebol é tão absurda como o discurso de vitória de PSD e CDS, lançando o caos no mundo daqueles que fazem vida do comentário político.

Passado o embate, depressa se recompuseram e lançaram-se ao ataque: as eleições foram claras, o PSD e o CDS ganharam, logo governam e o PS, se quer ser um partido responsável, só pode apoiar. O resto (dos partidos que compõe o novo quadro parlamentar), como é sabido, não conta, não pode contar, para qualquer equação.

É um período em que a teoria das inevitabilidades – da política de direita e da abdicação da soberania nacional – e o anticomunismo vêm à tona de forma mais agressiva e despudorada, levando até o Daily Telegraph a notar que pela primeira vez na UE se proíbem dois partidos de contribuir para uma solução, para satisfazer Bruxelas e os mercados. Um dos exemplos mais recentes foi o que assistimos na TVI24 após a entrevista ao Secretário-geral do PCP no passado sábado. Foram 20 minutos de ataque a qualquer solução governativa alternativa, particularmente ao contributo do PCP, com recurso aos argumentos mais velhos que encontraram no baú de velharias do anticomunismo – seja primário ou mais refinado.

David Dinis é director do jornal Observador, afirmado instrumento da direita. Começou por afirmar a coerência das posições do PCP, mas logo de seguida decreta a morte a qualquer solução: «Tudo correrá muito bem se, por milagre, a economia começar a crescer, o défice a descer e a Europa estiver em paz».

Mas a estrela do noite foi Sofia Vala Rocha, eleita do PSD na Assembleia Municipal de Lisboa. Começou por dizer que o PCP é um partido de protesto que, de cada vez que há eleições, quer sempre novas eleições. Que o PCP nunca admitiu contribuir para uma solução de governo. Que o PS é o inimigo de estimação do PCP, e que algo mudou porque, pela primeira vez, o PCP mostra disponibilidade para entendimentos. A ignorância é indesculpável, ainda para mais vinda de uma autarca em Lisboa, onde o PCP durante 12 anos partilhou responsabilidades com o PS.

O medo de que exista uma alteração política, ainda para mais com o contributo dos comunistas portugueses, leva ao desespero que se traduz em contradições constantes – ora o PCP é partido de protesto que não tem soluções para o País, ora não as pode apresentar porque não estão de acordo com a política de direita.

São estes distintos democratas que povoam os espaços de comentário e opinião para quem, em contradição com a Constituição e a realidade, os resultados eleitorais só podem ser interpretados a favor da política de direita e da sua manutenção. E se hoje a máscara começa a cair em muitos, muito se deve à iniciativa do PCP que, desde há meses, se vem afirmando como força determinante na construção de uma alternativa política.




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