Estabilidade

Manuel Gouveia

O povo precisa de estabilidade. Aqueles que estão com contratos precários precisam de vínculos de trabalho estáveis. Aqueles que estão desempregados precisam de emprego. Aqueles que têm baixos salários precisam de salários mais altos. Os funcionários públicos e os trabalhadores do sector empresarial do Estado precisam que parem de roubar-lhes os salários. Aqueles casais sem possibilidade de colocar os filhos nos infantários ou incapazes de suportarem os custos com a educação «gratuita» precisam de garantias de acesso universal. Aqueles que devem três, quatro ou mais meses de renda aos bancos ou aos senhorios, e se vêem ameaçados com o seu despejo e dos seus, precisam da segurança de uma habitação digna. Aqueles que adiam análises ou abandonam tratamentos de saúde que lhes são indispensáveis precisam da Segurança Social que hoje não têm.

O povo precisa, deseja, anseia por estabilidade. Mas não há volta a dar: a estabilidade na vida do povo implica a socialização da riqueza produzida, o que implica a socialização dos principais meios de produção e dos serviços públicos essenciais.

E uma maior estabilidade não pode ser alcançada sem fazer cair muitas cadeiras e cadeirões. Há toda uma classe de exploradores e uma camada de parasitas que têm que sentir o chão a fugir-lhes debaixo dos pés. Estabilizar a vida do povo português implica desestabilizar aqueles que hoje gastam a palavra estabilidade, e que dizem e repetem até à (nossa) exaustão que o «País precisa de estabilidade».

É que eles dizem «País» porque têm medo de dizer «classes dominantes», porque precisam de disfarçar que o que querem estabilizar é esse domínio e os decorrentes privilégios e regalias. Precisam de estabilidade, como um pastor precisa da estabilidade do seu rebanho para o poder tosquiar, sacar-lhe o leite, as crias, a carne e até os ossos.

Os burgueses sonham com um povo domesticado quando falam em estabilidade, sonham com um povo submetido à sua ditadura. A estabilidade deles representa a desestabilização e precarização da vida do povo português. É que os sonhos deles são os nossos pesadelos. E vice-versa!




Mais artigos de: Opinião

Avançar e recuperar direitos: a luta continua!

Após as eleições, a realidade aí está a desmentir a propaganda da recuperação e a trazer à evidência os problemas e dificuldades que atingem a vida dos trabalhadores. E a confirmar a necessidade de muita acção e luta para que a alteração da correlação de forças se traduza em avanços e recuperação de direitos.

 

Derrota a termo certo

«A partir do próximo dia 8 de Novembro – refere a CGTP-IN – a duração máxima dos contratos a termo volta a ser de três anos, de acordo com o Código de Trabalho». Segundo aquela confederação sindical, termina nesta data a possibilidade de...

Os «Filipes», a «nobreza» e a democracia

O domínio do Reino de Espanha sobre Portugal – a chamada Dinastia filipina – durou mais de meio século. A perda da independência de Portugal ocorreu na sequência da conturbada crise sucessória de 1580 desencadeada após o desaparecimento de D. Sebastião na...

Cabeça no ar

A decisão do PCP de que a perda de maioria parlamentar do PaF «tinha de ter consequências» – e tirando-as, ao se disponibilizar para a viabilização de um governo do PS liderado por António Costa –, lançou a direita na moscambilha que revolve o País...

Uma manifestação importante

A evolução da situação internacional coloca perante todos os democratas e patriotas que lutam para pôr termo à política de destruição, empobrecimento e declínio nacional e perante todos os amantes da liberdade e da paz, grandes exigências de...