Uma manifestação importante
É particularmente grave o papel da generalidade da comunicação social
A evolução da situação internacional coloca perante todos os democratas e patriotas que lutam para pôr termo à política de destruição, empobrecimento e declínio nacional e perante todos os amantes da liberdade e da paz, grandes exigências de intervenção. Em Portugal para defender a soberania e a independência nacional, dando firme combate a intoleráveis manifestações de submissão nacional como as protagonizadas por Cavaco Silva. No plano mundial, para enfrentar a estratégia de ingerência e agressão do imperialismo que está a arrastar o mundo para uma guerra de catastróficas proporções. Daí a importância e significado da manifestação do passado sábado em Lisboa e do conjunto de iniciativas que mobilizou milhares de pessoas sob a palavra de ordem «Sim à Paz, Não aos exercícios militares da NATO» em que a luta em defesa da soberania nacional e em defesa da paz andam de mãos dadas.
Tão importante que se impôs como notícia em alguns órgãos de informação o que é raríssimo acontecer pois as acções realizadas em Portugal contra o militarismo e contra a guerra e de solidariedade com os povos vítimas da agressão imperialista quando não são hostilizadas e minimizadas, são pura e simplesmente silenciadas. Dir-se-ia que a intenção da comunicação social dominante é esconder da opinião pública os grandes perigos que a situação internacional comporta e dificultar uma tomada de consciência mobilizadora quanto às causas e responsáveis de uma tal situação dando enquadramento político e ideológico à estratégia de desestabilização geral e de domínio mundial do imperialismo, estratégia em que precisamente a NATO, sob a liderança dos EUA, desempenha o papel de braço armado, em constante reforço, arrogando-se o direito de intervir em qualquer parte do mundo e semeando o caos, a morte e a destruição em nome dos «direitos humanos» e de um inexistente «direito de ingerência humanitário».
Na situação perigosíssima que vivemos – rápido crescimento de forças racistas e fascistas, corrida aos armamentos, cavalgada da NATO para o Leste da Europa até às fronteiras da Rússia, genocídio na Palestina, escalada de tensão em torno da Síria, ressurgimento do militarismo japonês, ofensiva desestabilizadora e recolonizadora em África, etc.) – é particularmente grave o papel da generalidade da comunicação social. Desde logo porque o simples tratamento noticioso tem uma clara marca de classe mas sobretudo pelas grandes operações de propaganda que dão cobertura aos piores crimes do imperialismo. Aqui há de tudo, desde as mais reles falsificações (lembram-se do frasquinho exibido por Colin Powell na ONU como «prova» do uso de armas químicas pelo governo do Iraque?) até à instrumentalização de reais problemas para justificar a ingerência nos assuntos internos de estados soberanos. A extraordinária dimensão que na comunicação social portuguesa adquiriu a greve da fome de um cidadão angolano preso dá muito que pensar, sobretudo se tivermos em conta as inúmeras situações de perseguição, prisão, tortura e assassinato que todos os dias, como na Palestina, atingem milhões de pessoas anónimas. Sim, está suscitado um real problema humanitário que se deseja que não venha a ter um desenlace trágico. Mas é uma evidência que, a pretexto de uma questão humanitária, estamos perante mais uma operação de desestabilização imperialista semelhante a tantas outras. Como ensinou o nosso António Aleixo «para a mentira ser segura e atingir profundidade, tem de trazer à mistura qualquer coisa de verdade».