Das máscaras
A direita está acantonada nos trinta e tal por cento desde a Revolução de Abril. É um score primordial no regime democrático que, nas passadas eleições, retornou à origem e surgiu no «osso» do conservadorismo no nosso País.
Quem votou no PaF fê-lo militantemente, com todos os cambiantes da direita convergindo num desforço eleitoral, desesperado pela (má) consciência da governação devastadora realizada pela coligação PSD/CDS. Porque, exceptuando os ultramontanos da herança do fascismo, os conservadores do nosso País são pessoas como toda a gente e não deixam de ver (e sentir) os violentos desmandos sociais cometidos pelo Governo Passos/Portas. Pelo que a concentração dos votos no PaF parece uma manobra desesperada para «salvar a sua maioria» de direita e o que, apesar de tudo, veriam como «o seu governo».
Daí todos os votos nas outras forças políticas terem, como objectivo central, atirar borda-fora tão catastrófica política e tão detestado Governo.
Este é o ineludível resultado do acto eleitoral de 4 de Outubro.
Esta é a efectiva expressão da vontade maioritária dos portugueses.
Não foi por acaso que ninguém do PaF festejou nas ruas a «vitória», na noite dos resultados... É que todos perceberam que a coligação do Governo tinha sido derrotada, apesar de ter ganhado nas urnas.
Esta é a primeira evidência, furiosamente borregada pela mixórdia de «comentadores» e «analistas». E eis a segunda.
Ao querer canibalizar o Portugal de Abril a coberto das «exigências da troika», o Governo Passos/Portas ultrapassou com brutalidade os limites e o senso da governação burguesa: antagonizou a sociedade no seu conjunto (novos contra velhos, empregados contra desempregados, funcionários públicos contra «trabalhadores do privado», «empreendedores» contra «instalados na zona de conforto» e etc.), alastrou o culto do individualismo e da competição egoísta, desregulou as relações de trabalho, desmantelou a fiabilidade e a confiança no Estado como pessoa de bem e deprimiu a vida nacional numa austeridade sem fim, a par dos cortes selváticos em salários, pensões, direitos e liberdades e do desemprego gigantesco que espalhou por todo o lado.
Ou seja, a política deste Governo consistiu numa feroz investida contra o ordenamento social do País que, quatro anos depois, se exprimiu eleitoralmente na repulsa maioritária dos portugueses por tal Governo. E ponto final.
Entretanto, o anticomunismo saltou que nem mola na Informação, desde a inanidade de Manuela Ferreira Leite a chamar «golpe de Estado» às conversações do PS com a esquerda parlamentar, à miríade de alarvidades sortidas expondo, elas mesmas, o reaccionarismo primário escondido por trás de tanta máscara de «democrata». Já nem é preciso nomeá-los – basta enumerá-los...