Os amigos e a ocasião
Em fim de estação sucedem-se os desmandos do Governo na proporção inversa do tempo de vida política que lhe resta. Dos transportes públicos ao património dos vitivinicultores durienses aí está o Governo a assegurar que aos amigos e clientelas nada ficará por satisfazer.
Na maré da fúria privatizadora emerge agora o Novo Banco como uma das derradeiras ilustrações do processo de entrega do País aos interesses do capital monopolista e financeiro.
Segundo um conhecido semanário, a desastrosa «venda» que a todo o momento se anunciará, e que corresponderá a uma determinação do Governo, tem já preparada na linha da cuidada estratégia mistificadora do Executivo justificação aprontada. Socorrendo-nos daquelas populares imagens que quase todos conhecem, seja a do fulano que tendo arremessado a pedra logo esconde a mão, seja a de um outro fulano que levando aos ombros um porco acabado de roubar e apanhado em flagrante logo se apressou a sacudir o animal gritando «que horror, um bicho!», Passos Coelho perante o eminente desastre para o interesse público apressar-se-á a remeter para o Banco de Portugal e para o seu governador a responsabilidade pela coisa. Seguramente agora se compreenderá melhor a continuada e recíproca cumplicidade que os vai unindo na cobertura dos desmandos fraudulentos da banca. E, sobretudo, agora melhor se entenderá – após o vergonhoso e nunca esclarecido papel de Carlos Costa no processo do BES/GES, na decisão de resolução daquele banco e no actual processo da sua entrega do Novo Banco – a premiação que lhe foi atribuída com a sua recondução como governador do Banco de Portugal. Dir-se-ia que Passos Coelho, fiel «à máxima» de que os amigos são para as ocasiões, não hesita a eles recorrer quando se trata de levar por diante a sua missão de desbaratar interesses e recursos nacionais. Sempre em prejuízo do País e do seu direito a um desenvolvimento soberano.