A «caça ao centro»
Comentando os apelos de Passos aos eleitores que «não são do PSD e do CDS» e os apelos de Costa aos «indecisos», o Público (editorial de 30.08.2015) concluía afirmando que «abriu a caça ao centro». Que essa campanha «ao centro» traduziria o reconhecimento de que «os dois partidos estão condenados a entenderem-se na próxima legislatura se não quiserem voltar às urnas no curto prazo». Muito sabe o jornal da SONAE.
Entretanto a lógica da coisa suscita interrogações. Por que carga de água é que os eleitores indecisos e que não são do PSD e do CDS se situam «ao centro»?
É evidente que o PS e o PSD/CDS andam alarmados com a pouca confiança que suscitam. Passos, tosco como de costume, até trata de «egoístas» esses eleitores que quer «caçar». A frase merece ser citada, verdadeiro modelo que é de inteligência e habilidade política: «Tenho apelado a muitos que, não sendo do PSD e CDS, que acham, num cálculo egoísta, que passaram dificuldades muito grandes que associam ao Governo que lidero, que pensem não apenas no período por que passámos mas no futuro que estamos a construir» (sic).
Por seu lado, os assessores de Costa não têm descanso. Já lhe proporcionaram seis «cartas aos indecisos». Os temas, genéricos, são algo requentados. Mas nem a sua generalidade deixará de colocar a questão fundamental: como é que Costa e o PS limpam do seu currículo (e da memória dos «indecisos») o lamentável contributo que os seus governos deram nas áreas com que agora dizem preocupar-se? Nada do que defendem tanto no que diz respeito a Portugal, como à UE, como à injusta sociedade assente na exploração e na desigualdade em que estão instalados é diferente ou rompe com o que conduziu à situação actual.
Bem podem correr atrás dos «indecisos» e escrever-lhes cartas. Aqueles que passaram e passam «dificuldades muito grandes» alguma coisa hão-de ter aprendido com isso. E, se aprenderam, estão longe de se situar «ao centro» ou de hesitar entre PS, PSD e CDS. Para romper de com as «dificuldades muito grandes» que tantos têm passado, o caminho não é «ao centro» mas à esquerda.
Para já, com o voto CDU.