A «caça ao centro»

Filipe Diniz

Comentando os apelos de Passos aos eleitores que «não são do PSD e do CDS» e os apelos de Costa aos «indecisos», o Público (editorial de 30.08.2015) concluía afirmando que «abriu a caça ao centro». Que essa campanha «ao centro» traduziria o reconhecimento de que «os dois partidos estão condenados a entenderem-se na próxima legislatura se não quiserem voltar às urnas no curto prazo». Muito sabe o jornal da SONAE.

Entretanto a lógica da coisa suscita interrogações. Por que carga de água é que os eleitores indecisos e que não são do PSD e do CDS se situam «ao centro»?

É evidente que o PS e o PSD/CDS andam alarmados com a pouca confiança que suscitam. Passos, tosco como de costume, até trata de «egoístas» esses eleitores que quer «caçar». A frase merece ser citada, verdadeiro modelo que é de inteligência e habilidade política: «Tenho apelado a muitos que, não sendo do PSD e CDS, que acham, num cálculo egoísta, que passaram dificuldades muito grandes que associam ao Governo que lidero, que pensem não apenas no período por que passámos mas no futuro que estamos a construir» (sic).

Por seu lado, os assessores de Costa não têm descanso. Já lhe proporcionaram seis «cartas aos indecisos». Os temas, genéricos, são algo requentados. Mas nem a sua generalidade deixará de colocar a questão fundamental: como é que Costa e o PS limpam do seu currículo (e da memória dos «indecisos») o lamentável contributo que os seus governos deram nas áreas com que agora dizem preocupar-se? Nada do que defendem tanto no que diz respeito a Portugal, como à UE, como à injusta sociedade assente na exploração e na desigualdade em que estão instalados é diferente ou rompe com o que conduziu à situação actual.

Bem podem correr atrás dos «indecisos» e escrever-lhes cartas. Aqueles que passaram e passam «dificuldades muito grandes» alguma coisa hão-de ter aprendido com isso. E, se aprenderam, estão longe de se situar «ao centro» ou de hesitar entre PS, PSD e CDS. Para romper de com as «dificuldades muito grandes» que tantos têm passado, o caminho não é «ao centro» mas à esquerda.

Para já, com o voto CDU.




Mais artigos de: Opinião

Crimes em série

A vaga de refugiados na Europa é um dos temas salientes da actualidade, mas, salvo raras excepções, as suas causas profundas não são afloradas nos media. Os responsáveis da UE, ainda a digerir o recente memorandum colonial de subjugação da Grécia, dão...

O binómio

PS e o dueto do PAF andam alegremente apostados em convencer o País de que apenas eles existem, na contenda eleitoral do próximo 4 de Outubro. Seguem o guião gizado pelas direcções televisivas que, do alto da sua virginal independência, amanharam-se com a legislação...

Os amigos e a ocasião

Em fim de estação sucedem-se os desmandos do Governo na proporção inversa do tempo de vida política que lhe resta. Dos transportes públicos ao património dos vitivinicultores durienses aí está o Governo a assegurar que aos amigos e clientelas nada...

Prestar contas

Caro Manuel Pinheiro, Decidi escrever-lhe a propósito do texto que publicou na Internet*, intitulado «eu não vou votar no PCP... mas devia», que li com especial apreço. Diz o Manuel que o PCP é o único Partido que envia «o relatório de todas as...

Por um Portugal com futuro

Estamos no limiar da Festa do Avante! 2015, a grande festa da juventude, da cultura, da afirmação do ideal e projecto comunista, dos valores, propostas e lutas mais avançadas do povo e do Portugal de Abril, da solidariedade internacionalista com os trabalhadores e os povos do mundo.
E estamos a duas semanas da abertura oficial da campanha para as eleições legislativas que, sendo mais um passo num prolongado e complexo processo de luta pela democracia avançada e o socialismo, assumem uma grande relevância política, porque serão o momento inevitável de uma grande derrota do Governo PSD/CDS e podem e devem constituir o elemento crucial de uma ruptura efectiva, urgente e indispensável, com a política de direita destes 39 anos.