Arranjos
Neste tempos em que foi declarado o estado de alerta nas hostes da política de direita com vista à sua sobrevivência, melhor se percebem afirmações, diligências, pressões e posicionamentos que dos quatro cantos nos chegam. Já se conheciam as inusitadas declarações de Cavaco Silva que no seu papel de zeloso guardião da ordem instalada pelos interesses do grande capital não se coibiu de ameaçar e chantagear o povo português a propósito da necessária «governabilidade e estabilidade» que a política de ruína, exploração e dependência nacionais precisa de ver garantida para se poder perpetuar. Conhecida é também aquela elucidativa afirmação de Passos Coelho quanto à necessidade de uma maioria absoluta seja ela da coligação PSD/CDS, seja ela do PS, que de tão desprendida só pode significar que, para lá das conhecidas rotações nos turnos de serviço à política de direita, os valores maiores a preservar estão exactamente nos interesses de classe a mando dos quais se está e não tanto em quem a cada momento é dada a vez de os executar. Acrescentam-se duas novas revelações de sentido convergente. Em primeiro lugar, o afã agora revelado de Maria de Belém, até há poucos meses presidente do PS, para procurar apoios do, ou no CDS-PP, para a sua candidatura presidencial. E mesmo que aparentemente o namoro pareça não estar a obter a desejada correspondência por uma qualquer ingratidão ditada por outros arranjos de ocasião em nada se reduz o alcance e significado mais profundo das movimentações da putativa candidata. Em segundo lugar, a confissão de António Costa quanto ao que designa de «identidade de pontos de vista muito significativa» que confessa partilhar com Manuela Ferreira Leite e a não exclusão, ainda que implícita, da possibilidade de integrar um governo do PS. Mesmo os que tomados por aquela imensa benevolência roçando a ingenuidade sempre encontrarão justificação no domínio das obrigações tácticas, prevenidos ficarão quanto ao real significado de tão sincera proximidade do sectário-geral do PS com a ex-ministra de Cavaco Silva. Prevenções que têm sobretudo o mérito de, por antecipação, deixar clara qual a opção para assegurar que em 4 de Outubro se derrota não apenas a coligação PSD/CDS mas as manobras para perpetuar a política de direita.