Os marcianos!

João Frazão

António Costa foi entrevistado um dia destes por um semanário nacional a propósito do próximo acto eleitoral. Questionado sobre a possibilidade de constituir governo com o PSD, a seguir às eleições, Costa disse que tal só sucederia se os marcianos viessem invadir o nosso País.

Pode parecer piada, mas a afirmação tem o seu conteúdo e deve ser escalpelizada a essa luz.

Desde logo, porque essa afirmação é feita na mesma entrevista em que o secretário-geral do PS informa que ele e Manuela Ferreira Leite (essa mesma, a que foi ministra das Finanças do governo PSD/CDS de Durão Barroso e, posteriormente, líder do PSD e que, nessas funções se destacou pelas suas posições neoliberais), têm «uma identidade de pontos de vista muito significativa», respondendo assim à pergunta se admitia convidá-la para um governo.

Também porque esta atoarda, em jeito de piada, é atirada por alguém que, há dezenas de anos, tem as maiores responsabilidades num Partido que já esteve no governo sozinho, mas também acompanhado com PSD e mesmo com o CDS, sem que conste que tenha havido, na altura, qualquer invasão de marcianos ou de qualquer outro ser extraterrestre.

Mais ainda porque se trata de alguém que esteve de mãos dadas com o PSD e CDS, não na unidade nacional necessária para travar as hordas de invasão política e económica, a que o povo e o País têm sido sujeito nas últimas décadas, e contra a entrega de parcelas fundamentais da nossa soberania, que vêm pondo em causa a independência nacional, mas antes no escancarar de portas para que essa ocupação se concretizasse com êxito para os ocupantes.

E, não menos importante, porque esta resposta mais não visa que esconder que não é preciso nem marcianos nem quaisquer outros seres, para que, sozinhos ou acompanhados, PS, PSD e CDS façam exactamente a mesma política.

À cautela, e perante uma declaração tão definitiva, aqui ficam umas ideias para preparar o «kit de emergência», não contra os marcianos, que se vierem até são capazes de ser boa gente, mas para derrotar a política que uns e outros, sozinhos ou acompanhados, desejariam levar a cabo: muita força do povo e muitos votos na CDU!




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