Acesso das «secretas» a meta dados

Retrocesso histórico

A proposta de revisão do regime do Sistema de Informação da República Portuguesa (SIRP) foi um dos diplomas de conteúdo negativo para o regime democrático aprovado em votação final global com votos do PSD, CDS e PS, dia 22 de Julho, no último plenário da XII Legislatura.

Este foi mais um exemplo elucidativo de como os três partidos da política de direita «estão sempre prontos a entender-se em prejuízo do regime democrático», como salientou Jerónimo de Sousa na conferência de imprensa por si dada nesse mesmo dia no Parlamento.

Antes da votação, o deputado António Filipe voltou a chamar a atenção para a «grosseira violação» que o diploma faz ao artigo 34.º da Constituição, o qual proíbe qualquer ingerência nas comunicações fora do âmbito da investigação criminal.

E respondendo à alegação dos autores da iniciativa legislativa de que não propõem «escutas», o deputado do PCP observou que embora não sendo propostas escutas são propostas outras formas de ingerência nas comunicações.

A saber, especificou, o «acesso a dados de tráfego, de localização, outros dados conexos das comunicações necessários para identificar o assinante ou utilizador ou para identificar a fonte, o destino, a data, a hora, a duração e o tipo de comunicação, bem como para identificar o equipamento de comunicações ou a sua localização».

A existência de uma comissão de juízes de carreira também não é um factor que permita resolver o problema do acesso a comunicações, porquanto, frisou, essa comissão de controlo é um «órgão administrativo», não é um «órgão jurisdicional e não actua de forma nenhuma no âmbito da investigação criminal».

António Filipe socorreu-se ainda dos pareceres recebidos na AR sobre esta matéria – da Comissão Nacional de Protecção de Dados, do Conselho Superior da Magistratura, da Procuradoria-geral da República –, concluindo que eles são demonstrativos da inconstitucionalidade do diploma.

Em síntese, para o PCP, este é um «retrocesso histórico e uma séria ameaça em matéria de liberdades públicas».

«Dizem-nos que o combate ao terrorismo justifica tudo. Os senhores é que justificam tudo em nome do combate ao terrorismo», enfatizou, acusando PSD, PS e CDS-PP de atacarem as liberdades e garantias em nome do combate ao terrorismo.

O PCP, pela sua parte, concluiu, entende que o combate ao terrorismo, a salvaguarda da segurança devem visar sobretudo a defesa das liberdades e nunca o ataque às liberdades. E terminou, citando Benjamin Franklin: «Quem aceita sacrificar a liberdade em nome da segurança, não é merecedor nem de uma nem da outra».

O Presidente da República enviou entretanto o diploma ao Tribunal Constitucional requerendo a fiscalização preventiva da «norma constante do n.º 2 do artigo 78.º do Decreto, que permite o acesso dos oficiais de informações do SIS e do SIED aos meta dados, com o n.º 4 do artigo 34.º da Constituição, o qual estabelece a inviolabilidade da correspondência e das comunicações».

 



Mais artigos de: Assembleia da República

Subtrair mais recursos<br>às autarquias

Um dos pontos negros que marca o final da Legislatura é a aprovação pela maioria PSD/CDS-P de uma alteração ao regime financeiro das autarquias locais e das entidades intermunicipais.

Devolver às populações<br>o que é seu

O Grupo Parlamentar do PCP reiterou o compromisso – entretanto já materializado no programa eleitoral para as eleições legislativas de 2015 – de apresentar iniciativas legislativas no sentido de repor as freguesias extintas pela Lei de 2012.

Opção em favor dos mesmos

Diversamente do que proclamam nos seus discursos os partidos da troika nacional – PS, PSD e CDS –, o que a realidade comprova é o seu propósito de prosseguir com a política de abrir os cordões à bolsa e pôr o Estado a pagar as aventuras da...

Inventário de Profissionais<br>de Saúde

A proposta de lei que cria o Inventário de Profissionais de Saúde foi aprovada no final da Legislatura pela maioria PSD/CDS e pelo PS, com os votos contra do PCP e do PEV, e a abstenção do BE. Como é explicado em declaração de voto da sua bancada pelas deputadas...

Ordem dos Assistentes Sociais

O PCP e o PEV abstiveram-se no projecto de lei do PS que cria a Ordem dos Assistentes Sociais, diploma que a maioria PSD/CDS-PP rejeitou em votação final global. Na base desta posição está o conjunto de «dúvidas e...