Eles andam nervosos

Paulo Raimundo (Membro da Comissão Política do PCP)

Com diversas combinações e protagonistas e com estilos e formas diferentes, pelas mãos de PS, PSD e CDS, com uns a abrir as hostilidades e os outros a concretizá-las, chegámos à actual situação. Tricas e aparentes divergências à parte, o que marca os 39 anos de turno da política de direita é o consenso geral no caminho a seguir – esse mesmo consenso que Cavaco Silva, no seu discurso de apelo ao voto na troika nacional, veio mais uma vez pedir sabendo (por experiência própria) que chegámos ao que chegámos não por falta, mas sim por excesso de consenso entre PS, PSD e CDS.

As nossas soluções exigem opções corajosas e mobilizadoras

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Consenso na adesão à União Europeia e ao euro; nos PEC e no pacto de agressão; no Tratado Orçamental, nas alterações às leis laborais; no ataque aos serviços públicos; nas privatizações e nos benefícios aos grandes grupos económicos. Mas há ainda muitos recursos por delapidar, muitos direitos e rendimentos por roubar e muitos cofres por encher e é por isso que é tão importante a dita estabilidade governativa, não importa quem, desde que este caminho não seja posto em causa.

Mas a verdade é que, para além da propaganda do PSD e CDS, a tentar vender a imagem de um País que não existe, do colinho da comunicação social ao PS e a outros, e dos intermináveis apelos de Cavaco, eles andam nervosos (e os seus patrocinadores, os tais cujas as fortunas não param de aumentar) e têm razões para isso.

É que, apesar das muitas ilusões que existem, há cada vez mais gente que se sente traída, angustiada, roubada nos seus rendimentos, na sua dignidade e já percebeu que quem os meteu no buraco não os vai tirar dele. Isto sente-se e houve-se nas ruas, nas empresas, nas lutas, nos contactos e acções que desenvolvemos um pouco por todo o País. Andam nervosos porque sabem que (ao contrário do que pensa Cavaco Silva) ninguém é dono dos votos dos portugueses e há cada vez mais gente que dá e reconhece razão ao PCP e à CDU e que cada vez há mais gente a questionar o que a troika nacional tem para oferecer.

Que futuro teremos quando se coloca toda a riqueza criada, salários, pensões e direitos, ao serviço de uma dívida insustentável? Que saída é possível quando se destrói ou se aliena a capacidade produtiva e os recursos humanos e naturais? Que condições existem para crescer quando tudo é feito para salvar a banca? Para onde vamos quando se opta por continuar a roubar salários e rendimentos, privatizar ou estrangular financeiramente a educação e a saúde e assaltar a Segurança Social? Que justiça social é esta quando se carrega no trabalho e se baixa o IRC para as grandes empresas e se alargam os seus benefícios fiscais? Que capacidade soberana teremos quando se sujeita o País às imposições do euro, do Tratado Orçamental e da União Europeia?

Ganhar voto a voto 

Andam nervosos, sim, porque sabem que cada voto e deputado a mais da CDU representa o alargamento da política patriótica e de esquerda e, por conseguinte, menos espaço à continuação da exploração e do empobrecimento. Nervosos sim, mas não dormem em serviço. Aí estão, e com força, os arregimentados comentadores e comentaristas, os escandalosos silenciamentos ao PCP e à CDU, as novas e velhas ilusões, as falsas saídas, as sondagens e os empates técnicos do costume, a chantagem e a pressão, a fantasia da eleição do primeiro-ministro, a mentira, a demagogia, os apelos ao dito voto útil e a falsa bipolarização. Manobras que caem que nem ginjas na estratégia do PSD/CDS e PS, mas acima de tudo servem os grandes grupos económicos que têm na troika nacional o seu principal instrumento político e nele procuram concentrar votos suficientes para, com esta ou aquela arrumação final de governo, manter os seus interesses intactos.

Um esforço titânico com meios brutais porque também são titânicos os interesses que estão em jogo, que o digam os grandes grupos económicos e os ditos mercados.

Da nossa parte, e com os nossos meios, também estamos num titânico esforço, porque também são ainda mais importantes os interesses em jogo, que o digam os trabalhadores, as populações e o País. É para estes que se destinam as nossas propostas e soluções (que certamente não agradam a uma pequena minoria que se vai enchendo às nossas custas).

Aos que nos dizem que as nossas propostas não são possíveis, dizemos que não só são possíveis como são necessárias e a cada dia que passa mais urgentes. Mas também afirmamos, com coragem e com verdade, que as nossas soluções exigem opções corajosas e mobilizadoras, a criatividade, luta e a força do povo.

É com esta gente e com esta força que, com enorme confiança, vamos realizar uma grande Festa do Avante! e uma grande campanha eleitoral de massas, mobilização e envolvimento. Vamos ocupar, nas ruas, o espaço que nos é roubado no plano mediático.

Vamos para a rua, esclarecer, ouvir e convencer, dar a cara e ganhar todos os dias mais um apoio, mais um voto, mais força que se manifestará no dia 4 de Outubro e que é fundamental para todos os dias seguintes.

 



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