Da Comissão Europeia para as multinacionais

As «portas giratórias» do TTIP

Uma investigação do Observatório Europeu das Corporações, publicada dia 15, mostra que vários responsáveis da Comissão Europeia ligados às negociações do TTIP trabalham hoje em companhias privadas.

Investigação denuncia conflito de interesses

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O estudo do Observatório Europeu das Corporações (COE – Corporate Europe Observatory) concluiu que é cada vez mais difusa a linha que separa as instituições europeias dos grandes interesses económicos.
Para o demonstrar, os investigadores desta organização não-governamental elaboraram uma lista de antigos altos funcionários e membros da Comissão Europeia, envolvidos nas negociações do Tratado de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP), que estão hoje ao serviço de grandes empresas ou dos seus lobbies.
Os autores do trabalho consideram que esta situação é reveladora das «sinergias entre os interesses económicos e a Comissão Europeia», designadamente no que respeita às negociações do TTIP.

A lista do COE é encabeçada pelo ex-comissário do Comércio, Karel De Gutcht, político belga que ocupou aquele cargo entre Fevereiro de 2010 e Outubro de 2014.
Foi ele quem iniciou as conversações comerciais entre a UE e os EUA e defendeu a inclusão do polémico mecanismo de resolução de conflitos (ISDS), que coloca os estados à mercê de decisões de tribunais privados.
Hoje, Gutcht faz parte do Conselho de Administração da Belgacom, a maior operadora de telecomunicações na Bélgica, com 53 por cento de capital do Estado, que integra o lobby da Associação Europeia de Operadores de redes de Telecomunicações (ETNO), um dos maiores defensores do TTIP.

A segunda figura da lista é o inglês John Clancy, igualmente adepto fervoroso do TTIP. Foi porta-voz da Comissão Barroso até Novembro de 2014 e hoje é quadro da consultora FTI, que tem como clientes companhias petrolíferas, a Google, Facebook, ou a farmacêutica Novartis.

O nome seguinte é o da espanhola María Trallero, que esteve na Direcção Geral do Comércio entre 2005 e 2012 e hoje é directora de Política Comercial na Federação Europeia de Associações e Indústrias Farmacêuticas. Esta federação é um poderoso lobby a favor do TTIP, actividade em que gastou mais de cinco milhões de euros em 2014.

A lista prossegue com o caso do advogado sueco, Jan Eric Frydman, assessor especial de Política Comercial e Assuntos Transatlânticos da Comissária do Comércio Cecilia Malmström.
Nomeado em Março deste ano, o advogado acumula funções na firma de advocacia Ekenberg&Andersson, onde, coincidentemente, é responsável pela área de Práticas Transatlânticas.

A promiscuidade entre as multinacionais e a Comissão Europeia é ainda mais clamorosa no exemplo do irlandês Eoin O'Malley.
Antigo assessor para as Relações Internacionais da BusinessEurope, o influente lobby da indústria europeia, integra desde Fevereiro de 2012 a Direcção-Geral do Comércio da Comissão Europeia, onde trabalha na equipa de estratégia comercial.

Na lista não falta sequer o nome de um português. Trata-se João Pacheco.
Ocupou durante dois anos e meio o cargo de Director-Geral adjunto da Direcção Geral de Agricultura da Comissão Europeia. Em 2013 decidiu abrir a sua própria firma de consultadoria, a JSPacheco-International Consulting. Aos seus clientes do agronegócio oferece «conhecimento, experiência e contactos».

O Observatório Europeu das Corporações acompanha há vários anos a actividade dos lobbies junto das instituições europeias e é uma das vozes mais críticas das negociações secretas do TTIP.
No seu estudo denuncia vários outros casos de funcionários, deputados e membros de governos que utilizam as «portas-giratórias» entre a política e os interesses económicos.

 



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