Discriminações

João Frazão

Completar-se-á este mês um longo (demasiado longo!) processo que acabará com as discriminações salariais das mulheres corticeiras.

Apenas para situar a questão, diga-se que, em 2008, ano em que se alcançou o acordo que agora tem o seu desfecho, as mulheres corticeiras ganhavam até menos 100 euros do que os seus companheiros de trabalho homens, apesar de fazerem trabalho igual.

Resistindo, enquanto pôde, a eliminar esta anacrónica diferença salarial, que afronta a Constituição da República e os valores de Abril, o patronato apenas aceitou a sua mitigação ao longo de sete anos que agora terminam.

A este propósito, importará sinalizar três aspectos no plano político e ideológico.

O primeiro para sublinhar a importância da acção e da luta organizada. Não fosse a acção dos trabalhadores organizados no seu sindicato de classe, e o patronato arrastaria por mais tempo tal iniquidade.

O segundo para afirmar que esta perversidade só era possível porque os patrões contaram sempre com o apoio dos sucessivos governos. Tendo arranjado um estratagema para colocar na «legalidade» o que era manifestamente ilegal, atribuindo categorias diferentes a homens e mulheres ainda que trabalhassem lado a lado, e fizessem exactamente o mesmo, os patrões sabiam que não havia no governo, fosse do PS ou do PSD, a vontade política para atacar esta questão, fiscalizar as empresas e obrigá-las a cumprir o preceito de «a trabalho igual, salário igual».

O terceiro é que, ao contrário do principal argumento que os patrões invocavam para não acabar com a esta injustiça (e que hoje estes e outros invocam para não aumentar salários), a vida veio provar que não é o seu fim, com o aumento de salários para as trabalhadoras atingidas, que cria dificuldades às empresas. Aliás, ao invés disso, as empresas acumulam lucros e designadamente o maior grupo do sector, o Grupo Amorim, amassa a maior riqueza do País nas mãos do seu principal accionista, a partir da exploração de todos os trabalhadores do sector e particularmente das mulheres. Riqueza que foi aumentando exponencialmente nestes anos e que o catapultaram mesmo para o lugar cimeiro do top dos mais ricos. Ao contrário destas trabalhadoras que continuam a empobrecer apesar do seu esforço e trabalho diários.

 



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