A serrazina
O Governo Passos/Portas, além de mentir a propósito de tudo, abocanha o que pode nas «privatizações» ou «concessões», não havendo inconstitucionalidades, legislações ou regras básicas de um Estado democrático de direito que o detenha. Tudo é admissível para esta trupe, que se imagina uma horda mongol a espadeirar o Portugal dos Pequeninos, território infantil que mapeia a sua «zona de conforto» – ou «Zona da Irresponsabilidade», que conta com a inimputabilidade concedida às crianças. Mas tirem daí o sentido: ninguém do Governo escapa fingindo-se criança e, ainda menos, fazendo dos portugueses «pequeninos».
A devastação prossegue: só nos últimos dias sucedeu-se a TAP, os TC e o Metro do Porto, o Metro e a Carris em Lisboa, tudo em segredo e sem consultar os trabalhadores, que prosseguem greves maciças contra as «privatizações» que os canais televisivos, «abertos» ou por cabo, não cobrem em directo, ao contrário das momices governamentais, sempre esmiuçadas, seja no Palácio de S. Bento ou em Cebolais de Escabeche.
Perante isto, o PS de António Costa nem sequer consegue recordar que os transportes públicos são isso mesmo – «públicos» e de massas –, indispensáveis para transportar as multidões imensas que todos os dias mantêm Portugal a funcionar, não sendo objecto de negócio privado nem de contabilizações de lucros e perdas: é um serviço social que o Estado deve garantir e suportar, para que o País funcione.
Até Manuela Ferreira Leite o diz mas, pelos vistos, isso já é «de mais» para António Costa e a sua entourage do «politicamente correcto».
Há uma indiferença deliberada no PS de António Costa ao assistir, sem nada fazer, a estes escandalosos atropelos à Constituição, às leis ordinárias e até às de usucapião do regime democrático-constitucional sobre a obrigação pública de o Estado financiar e garantir os grandes transportes de massas. Pelos vistos, julgam suficiente «prometer» a reversão da privatização da TAP.
Aparentemente, voltámos à velha serrazina do PS, que em campanha eleitoral esgaravata umas vaguidades «de esquerda», mas não levanta um dedo contra os desmandos antidemocráticos cometidos pela direita de serviço, guardando-se o PS para prosseguir a mesma política «legitimada pelo voto».
Portanto, o PS não abre boca perante um Governo ultramontano, que ataca todo o sistema democrático-constitucional como os madeireiros investem contra a floresta – à machadada.
Daí o PS não descolar nas sondagens. Esquecem que governar à direita sob a «legitimidade do voto» se está a tornar vertiginosamente ilegítimo. Entretanto, os vigaristas amorais do Governo continuam a aldrabar à tripa-forra, na ilusão de que «o eleitorado» apenas se move a sopro da mentira. Quando a derrota os afogar, vão ver que a mentira também se pulveriza.