Uma «escola de guerra»
Costuma-se dizer que o mundo dá muitas voltas. Mas nem de longe consegue dar tantas voltas como as que o oportunismo dá.
Vem isto a propósito da presença de um pano da UGT, transportado por dezena e meia de «sindicalistas», no desfile do 25 de Abril em Lisboa. Ao centro do pano Carlos Silva, o homem que foi pedir autorização ao patrão – Ricardo Espírito Santo Salgado – para ser eleito secretário-geral da prestimosa central amarela.
Que foi fazer um pano da central do 25 de Novembro ao desfile do 25 de Abril? Há várias respostas possíveis. Mas o mais importante é recordar para que serve uma central deste género. O papel que lhe cabe está muito longe de ser apenas o do parceiro «sindical» que subscreve o que o patronato lhe ponha à frente. Na luta de classes a traição desempenha um alto papel para o patronato, mas esse papel não é maior do que o da divisão dos trabalhadores e o da desmobilização das lutas. Tão importante para o patronato é Proença subscrever o miserável acordo de concertação de 2012 como Carlos Silva declarar (Janeiro de 2014) que «as greves não resolvem os problemas dos trabalhadores». Ou (21.04.2015) reproduzir a ideia de que «o recurso à greve, o recurso às manifestações e às concentrações é hoje visto por muita gente como um folclore para os sindicatos justificarem a sua existência».
Esta gente nunca aprenderá. Mas podíamos aqui deixar-lhes as frases que iniciam três parágrafos de um texto de Lénine: «A greve ensina os operários a compreender em que consiste a força dos patrões e em que consiste a força dos operários […]». «A greve abre os olhos aos operários não só quanto aos capitalistas mas também quanto ao governo e quanto às leis». […] «Assim, as greves habituam os operários a unirem-se, as greves mostram-lhes que só juntos podem travar a luta contra os capitalistas, as greves ensinam os operários a pensar na luta de toda a classe operária contra a classe dos fabricantes e contra o governo arbitrário e policial […]». As greves são apenas um meio de luta, apenas uma forma do movimento operário. «As greves – conclui Lénine – são uma “escola de guerra” e não a própria guerra». (VILOE 6T, T1, pp.25-27).
É para deixar os trabalhadores desarmados nessa guerra que a UGT existe.