Imperialismo derrotado
Ao terminar sem uma declaração final, a VII Cimeira das Américas confirmou a caducidade da subserviência latino-americana ao imperialismo, que saiu derrotado face a Cuba e à Venezuela.
São evidentes os limites históricos de iniciativas como a Cimeira das Américas
A ausência de um texto de encerramento é a primeira da derrota do imperialismo norte-americano na Cimeira realizada nos passados dias 10 e 11 na Cidade do Panamá. A existência de fortes mecanismos de integração e cooperação regional no subcontinente, nos quais os governos dos EUA e do Canadá não têm lugar (casos da CELAC, ALBA/Petrocaribe ou UNASUL), levou a que a maioria dos chefes de Estado e de Governo rejeitassem um relacionamento tutelar com os vizinhos do Norte, o que confirma, por outro lado, os limites históricos de fóruns e iniciativas semelhantes à Cimeira das Américas face a estruturas multilaterais baseadas no mútuo interesse e reciprocidade.
Isso foi particularmente evidente quando a maioria dos mandatários defendeu a independência e soberania dos países da região e a não ingerência nos respectivos assuntos internos, em particular criticando a consideração da Venezuela como uma ameaça por parte dos EUA.
O presidente venezuelano levou ao Panamá cerca de dez milhões de assinaturas a exigirem que Barack Obama derrogue o decreto imperial que subscreveu a 9 de Março. Ao intervir na Cimeira, qualificou a medida de agressão indigna e perigosa, salientou que o reconhecimento da revolução bolivariana é o primeiro passo para alcançar a paz, e exigiu que os EUA desmontem a máquina de guerra instalada na sua representação diplomática em Caracas e deixem de apoiar golpes promovidos a partir do seu território.
Nicolás Maduro e Barack Obama encontraram-se informalmente à margem da Cimeira e uma porta-voz da Casa Branca veio, na ressaca, afirmar que os EUA não têm interesse em ameaçar a Venezuela. O facto é que um parágrafo a repudiar a ofensiva contra a República Bolivariana não foi incluído na declaração final porque os EUA e o Canadá se opuseram, do que decorre a inexistência de documento conclusivo da Cimeira.
Vitória de Cuba
No balanço da Cimeira sobressai também o triunfo de Cuba, que ali esteve «depois de ter lutado durante mais de 60 anos com uma dignidade sem precedentes», como lembrou a presidente argentina Cristina Fernández.
Na sua intervenção, Raúl Castro lembrou as raízes e propósitos da doutrina que Washington vem aplicando contra Cuba, denunciou as consequências do bloqueio imposto pelos EUA e a sua falência. O presidente cubano encontrou-se, sábado, 11, com Barack Obama. Insistiu que «tudo se pode discutir quando existe respeito, incluindo questões sobre as quais se discorda», e o presidente norte-americano, por seu lado, agradeceu a Raúl Castro o «espírito de abertura».
O ministro dos Negócios Estrangeiros de Cuba, Bruno Rodríguez, revelou, posteriormente, que ambos «analisaram os progressos alcançados» nos diálogos bilaterais estabelecidos e «coincidiram na importância de se continuar a trabalhar» para restabelecer «as relações diplomáticas e abrir embaixadas nos respectivos países», do que depende a retirada de Cuba da lista de países terroristas. Raúl Castro reiterou a Obama que o levantamento do bloqueio imposto pelos EUA e a retirada dos norte-americanos de Guantánamo são essenciais para a normalização de relações entre os dois países, adiantou também Rodríguez.
A anteceder o encontro histórico, Barack Obama afirmou, sexta-feira, 10, que os tempos de «interferência com impunidade» do seu país na América Latina «acabaram». Nesse mesmo dia, no entanto, reuniu com dois «dissidentes» cubanos. De nada lhe valeu, porém, tentar a «quadratura do círculo», pois as organizações de provocadores cubanos e venezuelanos, bem como a imposição de uma agenda e conteúdo manipulados sobre «participação cidadã» e «governabilidade democrática» acabaram desmascaradas, quer no Fórum da Sociedade Civil que decorreu sob os auspícios da Cimeira das Américas, quer na contra-cimeira denominada dos povos que decorreu à margem dos eventos oficiais e à qual se deslocaram os presidente da Bolívia, Evo Morales, do Equador, Rafael Correa, e da Venezuela, Nicolás Maduro.