Fundação alemã constata catástrofe social
na Grécia

Mais pobreza e desigualdades

Um estudo da fundação alemã Hans-Böckler vem demonstrar o brutal agravamento da situação social e económica na Grécia provocado pelas medidas impostas pela «troika».

Os rendimentos mais baixos caíram 86% desde 2008 e 2013

Apresentado dia 19 de Março pela Fundação Hans Böckler, instituição ligada à confederação sindical alemã DGB, o estudo analisa a evolução dos rendimentos na Grécia entre 2008 e 2013.

Os seus autores, Tassos Giannitsis, da Universidade Kapodistrian de Atenas, e Stavros Zografakis, da Universidade Agrícola de Atenas, examinaram os dados fiscais de 260 mil famílias representativas.

As conclusões revelam os efeitos sociais dramáticos da «terapia» de choque imposta pela troika desde 2009.

Comparado com 2008, o rendimento médio anual caiu de 23 100 euros para 17 900 em 2012, ou seja, uma quebra de 23 por cento.

Já no período entre 2009 e 2013, os rendimentos das famílias baixaram em média 19 por cento.

Porém, devido à redução do salário mínimo e à destruição das convenções colectivas, muitos trabalhadores tiveram cortes salariais superiores, como é o caso das empresas públicas, onde as remunerações caíram 25 por cento.

O estudo mostra igualmente que a redução dos salários, e a consequente diminuição do poder de compra, teve impactos mais profundos sobre a economia do que apontavam as pretensas previsões das instituições internacionais.

«Em comparação com 2009, a massa salarial caiu 25 mil milhões de euros em 2013, ao mesmo tempo que a procura interna teve uma quebra de 53 mil milhões de euros», refere o estudo.

Políticas de classe

Dividindo a população em decis, ou seja, em dez classes de rendimentos, dos mais baixos aos mais elevados, os investigadores constataram que a redução dos rendimentos, antes de impostos, no primeiro decil das famílias mais desfavorecidas se cifrou em 86 por cento, entre 2008 e 2012.

Nos segundo e terceiro decis, a redução foi respectivamente de 51 e 31 por cento, enquanto do quarto ao sétimo decil a perda de rendimento oscilou entre 25 e 18 por cento.

No que respeita aos 30 por cento da população mais abastada, verificou-se uma quebra entre os 20 e os 17 por cento.

Assim, em 2012, cerca de um terço das famílias na Grécia dispunha de um rendimento anual inferior a sete mil euros.

As políticas fiscais em nada corrigiram o aprofundamento das desigualdades. Pelo contrário, o impacto real nas famílias foi muito diferenciado, penalizando mais uma vez os baixos rendimentos.

Desde o início da crise, os impostos directos aumentaram em média 53 por cento e os indirectos (IVA por exemplo) 22 por cento. Todavia, os 50 por cento da população com menores rendimentos viram a carga fiscal aumentar 337,7 por cento, enquanto a outra metade mais favorecida apenas teve de arcar com um aumento de nove por cento.

Em simultâneo com o saque fiscal e roubo nos salários e pensões, os governos gregos efectuaram brutais cortes no orçamento do Estado, sobretudo à custa da despesa social.

Como observaram os investigadores, entre 2009 e 2014, o orçamento do Estado teve uma redução de 13,6 por cento em relação ao Produto Interno Bruto, o qual, por sua vez, diminuiu cerca de 25 por cento neste período. Estes dados indicam que os cortes na Grécia foram muito superiores aos dos outros países intervencionados.

As políticas de empobrecimento provocaram a explosão do desemprego, que disparou de sete para 26 por cento, entre 2008 e 2014, e um aumento igualmente sem precedentes da precariedade laboral: o número de trabalhadores a tempo parcial cresceu 30 por cento entre 2008 e 2013.




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