António Dias Lourenço
Levar mais longe a bandeira
A sessão de 25 de Março, evocativa do centenário do nascimento de António Dias Lourenço, foi uma bela e sentida homenagem do PCP a um dos seus mais destacados dirigentes e militantes.
Da sessão transpareceu a alegria que caracterizava Dias Lourenço
Independentemente da relação que tenham tido com António Dias Lourenço – e era fácil, para quem o conheceu pessoalmente, sentir proximidade por este homem afável e conversador –, as centenas de pessoas que participaram na sessão evocativa, que fizeram transbordar o salão da Casa do Alentejo, em Lisboa, partilharam momentos de grande emoção: o filme, com depoimentos do próprio Dias Lourenço; a declamação, por Domingos Lobo e Carmen Santos, de poemas da sua autoria (datados de 1938 e 1939); a magnífica interpretação do Coro Juvenil da Universidade de Lisboa, magistralmente dirigidos pela maestrina Érica Mandilo; e a intervenção de Jerónimo de Sousa, valorizando a coragem, a dedicação, a alegria e a intensa actividade revolucionária de António Dias Lourenço ao longo de 79 anos.
Passando em revista aspectos centrais da biografia de Dias Lourenço, o Secretário-geral do PCP realçou, a encerrar a sessão, os «mil combates» por ele travados, sempre com imensa alegria e felicidade: «a sua presença e a sua palavra tão próxima das nossas vidas irradia ainda aquela imensa alegria, aquela inexcedível confiança no futuro do nosso Partido, do seu projecto e da nossa luta comum que tem no horizonte a realização da sociedade nova.» O dirigente do Partido lembrou a sua declaração, tão sincera quanto significativa, de que «o que me faz mais feliz é ver toda essa gente nova que vem ao Partido, para pegar na bandeira e andar para a frente».
Para Jerónimo de Sousa, a bandeira que «essa gesta de lutadores heróicos e de construtores do Partido de que Dias Lourenço fazia parte e a quem muito devemos a liberdade conquistada em Abril, transportaram e, com aquela genuína alegria que Dias Lourenço expressava, no-la entregaram carregada de história, de futuro e de esperança numa vida melhor para o nosso povo». Precisamente a mesma bandeira que, lembrou o dirigente comunista, «orgulhosamente seguimos e nos guia», com o exemplo de revolucionários como António Dias Lourenço.
O Secretário-geral do Partido garantiu que é essa mesma bandeira que hoje se pretende levar «cada vez mais longe», erguendo-se «cada vez mais alto o ideal da construção de uma terra sem amos, esse sonho milenar de uma sociedade liberta da exploração do homem pelo homem e pela qual Dias Lourenço e os homens da geração a que pertenceu entregaram o melhor do seu saber e das suas vidas».
Emoção, gratidão e determinação
A sessão evocativa do centenário do nascimento de António Dias Lourenço, que nesse mesmo dia se assinalava, esteve longe de ser um mero acto formal. Dirigida por Rui Braga, do Comité Central, ela contou com a presença da filha e da neta de Dias Lourenço, de muitos camaradas e amigos e também de personalidades não comunistas, que fizeram questão de comparecer, num inequívoco sinal de respeito por uma vida tão intensamente vivida em prol dos trabalhadores e do povo, da democracia e do progresso social.
Através da visualização de um filme, projectado em dois ecrãs, foi possível recordar (ou conhecer, em alguns casos) a fascinante personalidade de António Dias Lourenço, o humor com que se referia a episódios de particular dureza, particularmente os «encontros» com a polícia, a simplicidade com que contava verdadeiras epopeias, como se de algo natural se tratasse: as marchas da fome dos anos 40, as lutas do Alentejo, os 17 anos de prisão e a fuga de Dezembro de 1954, o «monstro» Gouveia (como se referia a um dos mais célebres criminosos da PIDE) foram alguns das recordações evocadas pelo próprio Dias Lourenço no filme, onde ainda lembrou que, para além dele, foram milhares os comunistas que, perante a polícia, não falaram e não traíram, sofrendo por isso as mais brutais torturas e mesmo a morte.
No vídeo, Dias Lourenço surge ainda a destacar a sua ligação com o Avante! (do qual foi responsável na clandestinidade e director em liberdade) e a natureza e características do órgão central do PCP, nomeadamente a informação correcta e o respeito pela verdade. Levá-lo ao povo era, como é ainda hoje, uma questão decisiva.
A declamação de poemas, verdadeiros hinos ao homem, ao trabalho e à luta, e a actuação do Coro Juvenil da Universidade de Lisboa, marcada pela excelência da actuação, das vozes e dos arranjos, foram igualmente momentos altos da sessão, a merecer emocionados e prolongados aplausos da imensa e entusiasta plateia.
A exposição evocativa que estava patente no átrio da Casa do Alentejo, despertando a atenção e a curiosidade de muita gente, passou dias depois para o Centro de Trabalho Vitória.
Outras homenagens
Para além da sessão da Casa do Alentejo e da exposição, o centenário do nascimento de António Dias Lourenço foi também assinalado em Vila Franca de Xira, numa iniciativa promovida pela Junta de Freguesia com o apoio do PCP, e numa outra, no Museu do Neo-Realismo. A primeira, realizada no dia 26, envolveu dezenas de pessoas e contou com as intervenções do presidente da Junta de Freguesia, Mário Calado, de Domingos Abrantes e de Lígia, filha de António Dias Lourenço. Na ocasião foi inaugurada uma exposição que se manteve patente até ao dia 30.
No sábado, o Museu do Neo-Realismo (movimento do qual António Dias Lourenço foi um dos percursores) promoveu uma evocação, que partiu da exibição do filme, «O Segredo», de Edgar Feldman (focando-se na fuga de Dezembro de 1954), seguindo-se um debate com a presença do realizador e de João Arsénio Nunes, investigador do Centro de Estudos de História Contemporânea do ISCTE.