Eleições e Ideologia

Ângelo Alves

As políticas da UE criam o lastro para a extrema direita

A segunda volta das eleições regionais em França fecha dois fins-de-semana de actos eleitorais em dois importantes países da Europa: em Espanha, com as eleições na Andaluzia, e em França. O ciclo eleitoral que se iniciou com as eleições gregas e que se estenderá durante todo este ano e o próximo tem uma importância política significativa porque permitirá ver quais as expressões da crise da União Europeia e dos sistemas de representação burguesa e dará sinais sobre tendências de fundo que já marcam a situação política na Europa nomeadamente sobre a profunda crise da social-democracia ou sobre o crescimento do populismo e da extrema direita.

As eleições regionais francesas registaram uma abstenção de quase 50% e ficam marcadas por uma ainda mais acentuada viragem à direita no panorama político francês. A UMP de Sarkozy e a Frente Nacional de Marie Le Pen somam juntos 67,5% dos votos. Só a extrema direita consegue 22,3% dos votos, apesar de não ter conseguido ganhar nenhum departamento na segunda volta e ter ficado atrás da Frente de Esquerda (integrada pelo PCF) em termos de eleitos. A razão principal destes resultados é a estrondosa derrota do Partido Socialista de François Hollande, o Partido do Governo, que perde quase metade dos departamentos para a UMP. A revanche de Sarkozy e a consolidação da extrema direita são factos que levantam duas questões de fundo: a primeira é o papel do PS Francês, ou seja da social democracia, que nas eleições presidenciais de 2012 criou enormes expectativas em torno do slogan «mudança» e que no exercício do mandato não só prosseguiu como aprofundou políticas que criticou duramente durante a campanha eleitoral. A desilusão com a social democracia favorece, como sempre, a direita. E neste caso a extrema direita. A segunda questão é o reflexo das políticas da União Europeia que criam o lastro para que uma força como a Frente Nacional não só tenha espaço para desenvolver o seu discurso nacionalista reaccionário como, na ausência, à esquerda, de claras e coerentes propostas de ruptura com os pilares da União Europeia e de defesa da soberania nacional, recolhe os votos de protesto contra as políticas e orientações da UE.

Os resultados na Andaluzia confirmam uma outra linha presente neste ciclo eleitoral: a penalização dos Partidos que estão no poder e que protagonizam o ataque anti-social e contra a dignidade de quem trabalha. O PP sofre uma forte derrota na Andaluzia, perdendo meio milhão de votos. Mas, confirmando a crise da social democracia em Espanha o PSOE vence as eleições mas perdendo votos e descendo mais de 4 pontos percentuais. Aqui vemos uma diferença relativamente a França. Em Espanha e na Andaluzia o peso das válvulas de escape, e da própria reconstituição da social-democracia, tem peso, apesar de não tanto como o esperado. O Podemos, que nas sondagens em Espanha é dado como um dos maiores partidos atinge 15% dos votos enquanto que uma outra formação da mesma natureza, o Ciudadanos, tem cerca de 9%.

O que ambas as eleições confirmam é que a situação social é tão dura, o embate de classe é tão forte, que, consciente da progressiva rejeição popular de uma mesma política com dois rostos, o sistema tenta encontrar as mais variadas formas para que não se afirmem reais alternativas a essa política. Seja por via da abertura de terreno à extrema direita seja pela promoção de forças que apresentadas como «novas» e de «unidade» acabam por se afirmar como almofadas políticas e espaços de reestruturação da social-democracia. A resposta só pode ser uma: afirmar claramente a necessidade de rupturas, denunciar as manobras de diversão que se vão multiplicar, intensificar o combate ideológico e construir a unidade no seio do povo.




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