O golpismo e a desestabilização
A maioria de direita e da social-democracia do Parlamento Europeu (PE) deu luz verde a que a UE conceda à Ucrânia «assistência macrofinanceira» para implementar o acordo com o FMI e o chamado Acordo de Associação UE-Ucrânia. Visando o apoio aos oligarcas ucranianos e a destruição do que resta de direitos sociais deste povo, este acordo é mais um empurrão para a guerra civil e para uma cada vez mais evidente confrontação com a Rússia. O voto da maioria do PE constitui mais uma etapa na desestabilização da Ucrânia desencadeada no quadro da pressão para a assinatura do Acordo de Associação com a UE em 2013. A «ousadia» em recusar tal acordo custou cara ao povo ucraniano. Socorrendo-se de partidos e organizações abertamente fascistas e neonazis com raízes históricas na Ucrânia e com estreitas ligações à oligarquia local, a ingerência dos EUA, da UE e da NATO desencadeou acções violentas de que os assassinatos da praça Maidan foram um exemplo, conduzindo ao golpe de Estado. Convém lembrar o corrupio de dirigentes dos EUA e da UE, ministros e deputados ao PE, tanto da direita como da social-democracia, que se acotovelavam para acicatarem o desfecho golpista à praça Maidan. Com o apoio do imperialismo, o governo golpista alimentou, ou desencadeou ele mesmo, acções de perseguição e repressão sobre democratas e em particular sobre os comunistas e o Partido Comunista da Ucrânia, sobre o qual pende a tentativa de ilegalização. Na região do Donbass os golpistas lançaram uma guerra de agressão contra aqueles que se recusaram a reconhecer-lhe legitimidade e a acatar as suas imposições. À guerra desencadeada pelo poder fascista de Kiev opôs-se uma forte resistência do povo, o que não impediu milhares de mortos e deslocados e a destruição de parte significativa da infra-estrutura da região. Perante a resistência e a incapacidade do exército e dos mercenários fascistas a soldo da oligarquia de vencerem a resistência popular, os golpistas foram obrigados a aceitar temporariamente um cessar-fogo. Mas na realidade os seus planos visam prolongar a guerra. A competição entre a oligarquia intensifica-se, entre os sectores no poder e os que permanecem fora dele preparam-se planos para um possível confronto. Proliferam os grupos fascistas e neonazis armados que ameaçam e agridem e sobre os quais pendem acusações de graves crimes de guerra no Donbass ou o massacre de Odessa. Grupos que acentuam os planos de imposição fascista, recrutando na Ucrânia e em outros países da Europa. A Câmara dos Representantes dos EUA aprovou uma resolução pedindo a Obama que providencie armas ao exército ucraniano. Iniciando-se no Báltico e passando pela Polónia e República Checa, a NATO faz um desfile provocatório à Rússia.
Enquanto parte integrante do sistema, a social-democracia da UE demonstra as suas concepções de democracia promovendo o golpismo e a desestabilização, aliando-se a forças abertamente fascistas. Felipe Gonzalez, antigo secretário-geral do PSOE (Partido Socialista Obrero Espanhol) e homem influente da Internacional Socialista, foi anunciado como advogado de Leopoldo Lopez e Antonio Ledezma, ambos presos e acusados de estarem a preparar um golpe de Estado na Venezuela, preparado e apoiado pelos EUA, o qual, entre os meios socialistas da UE, foi considerado como acto de perseguição política. Estes dois presos são os mesmos que, junto com María Corina Machado, promoveram abertamente acções que provocaram a morte de dezenas de venezuelanos. O papel que Felipe González se propõe desempenhar na Venezuela alerta para os perigos que persistem não apenas sobre este país mas igualmente sobre os processos de afirmação soberana e anti-imperialista que se vêm desenvolvendo na América Latina. Este envolvimento vem sublinhar o carácter cada vez mais hipócrita da social-democracia e o seu papel na agenda imperialista dos EUA e da UE. Se o historial de apoios e ligações entre os governos do PSOE presididos por Felipe González e ditaduras latino-americanas, nomeadamente com Pinochet, não deixam dúvidas sobre os seus escrúpulos, é certo que não é caso isolado entre as hostes socialistas. À social-democracia da UE de nada serve que milhões de venezuelanos tenham decidido repetidamente apoiar o processo Bolivariano e que o façam tendo por base a significativa melhoria das suas condições de vida, o acesso a direitos que não tinham e o direito a decidir soberanamente e sem ingerências externas sobre o seu destino.