O espírito
O rancor pelos resultados eleitorais na Grécia, e ademais o topete de o novo governo helénico andar por aí confrontando os poderes da Europa depositados na Augusta Alemanha, alçou a palavra a serenas individualidades.
O chanceler Coelho, ao reagir à vitória helénica, tão escarolado deixou o seu desprezo ao ordenar ao Syriza «cumprir os seus compromissos no quadro do memorando», que dias depois, afivelando um sorriso de amarelo fugitivo, veio ao proscénio declarar que «não estava de maneira nenhuma contra a vitória do Syriza». Claro que não.
O Presidente Cavaco desqualificou a função presidencial ao perorar para um primeiro-ministro de um país estrangeiro e da União Europeia o que, na sua arguta opinião não solicitada, devia «fazer» com a sua recente vitória eleitoral, chegando ao desplante de avaliar o que Tsipras tinha já «aprendido» no seu novel mister de chanceler e, pois claro, encarrilando as suas «recomendações» ao novo governo grego na linha férrea do combóio governamental. Um verdadeiro embaraço.
O Presidente e o Chanceler encabeçam aquela minoria à sua volta que só vê «sinais positivos» na situação portuguesa, atirando foguetes com as décimas que sobem e calando-se quando as tais décimas descem, enquanto ignoram o milhão de desempregados (é o FMI que o confirma) e outros sinais – não contados em décimas, mas em percentagens – que dão conta do número de pobres (20 por cento da população) dos cidadãos em risco de pobreza (40 por cento), das crianças também pobres (40 por cento), do encerramento de empresas, do aumento de ricos e pobres e do alargamento do fosso que lhes separa os rendimentos e etc. – tudo em degradação acelerada, quando aferido com a situação de há quatro anos. Com um pormenor: estes números vêm de entidades como o INE, o FMI, o EUROSTAT ou a UNESCO e não borboleteiam por aí em décimas trimestrais...
Nada disso conta para os dois ocupantes dos mais altos cargos do poder. E por razões ideológicas.
É por isso que ambos continuam submissos aos poderosos da UE, vergando-se aos seus ditames e fazendo deles bandeira. A atitude de Cavaco Presidente ou de Passos Chanceler (já não existe distinção ou distância) para com os resultados eleitorais na Grécia mantém a indignidade do anterior «desprezo» que alardeavam por quem estava, basicamente, na mesma situação que Portugal.
Agora, esta pretensa «distanciação» para com as reivindicações da Grécia face à UE é obtusa e indecorosa: não percebe que Portugal só tem a ganhar com essas reivindicações e que é de um egoísmo cobarde e mesquinho não ser solidário com os parceiros na desgraça.
Aliás, como o espírito fundador da União Europeia advoga...