Regresso ao futuro

Manuel Gouveia

Na cultura onde nos encontramos imersos, este ano de 2015 tem uma curiosa significância: é o ano em que McFly regressa ao futuro no seu DeLorean. E não há carros voadores a circular nas nossas cidades.

Este é um caminho que cada geração percorre, chegando ao futuro longínquo de outrora: vivemos um 1999 sem Base Lunar Alfa, um 2001 sem missão tripulada a Marte, um 2010 sem que Europa explodisse (pelo menos o satélite de Júpiter, como no filme de Kubrik, já a União Europeia, a que tantos chamam Europa, levou uns belos safanões) e vivemos um 2012 sem que o mundo acabasse apesar do calendário Maia.

Desta marcha do tempo vamo-nos dando conta, até porque ela é reconhecida, abordada, recordada, pelos meios de comunicação dominantes.

Mas se estas datas têm de facto uma real importância para a geração a que pertenço, não fazem esquecer o mito central criado pela máquina de dominação ideológica no final dos anos 80 e princípios dos 90 do século passado: a promessa de uma paz universal, de um capitalismo isento de contradições e de crises, de um mundo de felicidade «finalmente liberto da URSS».

E no entanto este é o mais desmentido de todos os mitos. O capitalismo vive de crise em crise, impondo os seus efeitos destruidores aos trabalhadores e aos povos, as guerras multiplicam-se e no horizonte adensam-se as perspectivas de uma nova Grande Guerra, um bando de oligarcas e especuladores apropria-se de fatias crescentes da riqueza mundial enquanto as grandes massas vão perdendo direitos e qualidade de vida e na Europa descobrem que afinal era o Exército Vermelho quem lhes garantia o «bem-estar».

É cada vez mais perceptível que estamos muito mais longe de viver a utopia pequeno-burguesa de um capitalismo «bom» do que de construir uma base lunar, uma missão tripulada a Marte ou carros voadores, tarefas que no essencial já só dependem de a elas se alocarem os necessários recursos.

Por oposição, porque coisa realizável à distância de um querer, é o Socialismo que se afirma, de novo e cada vez mais, como uma necessidade concreta, que responde às contradições insanáveis do capitalismo e mobiliza homens e mulheres para o regresso ao futuro.




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