A direcção certa

Albano Nunes

São os homens e a sua luta que fazem a História

Quando o horizonte é sombrio e propício a sentimentos de fatalismo e impotência, mais necessário se torna insistir na tese formulada pelo PCP na sua análise da situação internacional, de que grandes perigos coexistem com grandes potencialidades. Perigos de uma regressão social de dimensão civilizacional, perigos de uma guerra de catastróficas proporções. Potencialidades para o desenvolvimento de processos de transformação progressista, anti-imperialista e revolucionários. «Perigos e potencialidades» não é um slogan de propaganda. É uma tese que está inscrita na própria dialéctica do movimento da sociedade. Nas contradições do capitalismo e no aprofundamento da sua crise estrutural. Na agudização da luta de classes, sempre escamoteada e tantas vezes dissimulada em roupagens étnicas e religiosas artificialmente fomentadas. Na realidade (que as dramáticas derrotas do socialismo não anulam) de que vivemos na época da passagem do capitalismo ao socialismo, a época em que, num processo irregular e acidentado, amadureceram já no plano mundial as premissas materiais para a superação revolucionária do capitalismo.

Entramos 2015 com o mundo mergulhado na mais profunda e prolongada crise capitalista, com a generalização de guerras de agressão, com o avanço do racismo, da extrema-direita e do fascismo. Na Europa – com a expansão da NATO até às fronteiras da Rússia, a liquidação da neutralidade da Ucrânia, a instalação do sistema anti-míssil norte-americano, a acelerada militarização da União Europeia – está criado um foco de guerra perigosíssimo. No Extremo Oriente (onde em 1931, com a ocupação da Manchúria pelo Japão, verdadeiramente começou a II Guerra Mundial) reforça-se o tratado nipo-norte americano, multiplicam-se as provocações imperialistas na Península da Coreia e o Japão (incapaz de sair de uma estagnação económica de vinte anos) nega os crimes de guerra mais tenebrosos (como o massacre de Nanquim) e sobe o tom das suas pretensões expansionistas. No Médio Oriente e Ásia Central o imperialismo norte-americano com os seus aliados da UE e da NATO, generaliza a desestabilização e a destruição proclamando, a pretexto do combate a um misterioso «Estado Islâmico», uma «guerra para muitos anos». Na África prossegue a senda recolonizadora protagonizada sobretudo pela França e pelos EUA. Na América Latina são evidentes as manobras dos EUA para recuperar as posições perdidas e reverter os processos revolucionários, progressistas e anti-imperialistas que percorrem a região.

É pois necessário alertar toda a gente para os perigos de que está prenhe a situação internacional, a partir de uma posição combativa e mobilizadora, com a noção clara de que são os homens e a sua luta que fazem a História, que nada está antecipadamente escrito, que os piores cenários que se desenham no horizonte não são inevitáveis. É nesta perspectiva que é importante valorizar as pequenas e grandes lutas que se desenvolvem por todo o mundo contra a exploração capitalista, pelas liberdades e direitos fundamentais, pela soberania nacional e o progresso social. No que respeita à Europa revestem-se de importante significado as grandes manifestações e greves gerais que tem tido lugar na Bélgica, Itália, Grécia, França, Irlanda, Grã-Bretanha, Alemanha e outros países, sem esquecer que as lutas anti-raciais de extraordinária dimensão nos EUA têm um forte conteúdo de classe e expressam uma inequívoca contestação do sistema. É certo que a luta não está ainda à altura da gravidade da situação e que nos aguardam batalhas duríssimas. Mas resistir acreditando na força poderosa da luta persistente e organizada da classe operária e das massas populares, é caminhar na direcção certa.




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