Dívida pública em debate na AR

O ziguezaguear do PS

O debate aproximava-se do final e por saber estava ainda, em concreto, qual a posição do PS sobre a renegociação da dívida. Até aí fora notória a esquiva à questão essencial, ficando-se por formulações vagas e pela defesa de que a solução passa pela União Europeia e por «concertar com outros países outras saídas».

O que levou o deputado comunista Paulo Sá, na sequência de uma intervenção de fundo de Eduardo Cabrita, a desafiar a bancada do PS a abrir o jogo. «Ainda não percebemos qual a posição sobre a questão da renegociação da dívida», referiu, constatando que aquele dissera que «está na hora de discutir» mas nada adiantara quanto às propostas concretas que tem para que as mesmas sejam objecto de análise, nem sobre esta matéria nem sobre o Tratado Orçamental.

Na intervenção final, Vieira da Silva só veio adensar a indefinição. Sustentou que o PS não advoga nem a «subserviência da maioria» PSD/CDS-PP nem a posição do PCP e do BE (que João Galamba classificara antes de «desvario e loucura»), defendendo uma terceira posição alicerçada na «intervenção do BCE no mercado secundário» e em «respostas europeias ao problema».

A motivar a sua crítica esteve, entretanto, o pedido de clarificação do PCP quanto ao posicionamento do PS na questão da renegociação da dívida, bem como o aplauso que o mesmo motivara dos quadrantes à direita do hemiciclo. «Não se engane no alvo», aconselhou João Oliveira, respondendo a Vieira da Silva, a quem fez ainda notar que o «problema não são os aplausos circunstanciais do PSD ou do CDS-PP».

«O problema é o voto contra do PS em relação às propostas de renegociação da dívida que o PCP tem sucessivamente apresentado», enfatizou o líder parlamentar do PCP, recordando que o «problema são as posições estruturais do PS contra a proposta de renegociação da dívida» e o seu voto ao lado do PSD e do CDS-PP.

Mais, sublinhou, a «renegociação é uma condição para uma política de esquerda. Não é condição única mas é condição para se poder fazer uma política de esquerda».

E insistiu: «sem renegociação da dívida não há condições para fazer uma política de esquerda e por isso o PCP a tem vindo sucessivamente a apresentar ao longo destes quatro anos».

Porque o que está em causa – e daí a proposta consequente do PCP – é renegociar a dívida, «mas para fazer uma política diferente, para garantir a soberania do nosso País, garantir o fim da especulação no financiamento do Estado, garantir uma resposta de política económica que retome o controlo da economia portuguesa e que permita retirar o País do buraco para que foi arrastado com 38 anos de política de direita».

 



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