Governo e política esgotados
Face ao estado de degradação económica, social e política e institucional a que chegou o País, este Governo PSD/CDS não pode manter-se em funções, reiterou Jerónimo de Sousa no comício do PCP em Évora.
É urgente romper com a política de direita
Na iniciativa realizada ao final da tarde de anteontem, no Palácio D. Manuel, no centro da cidade alentejana, o secretário-geral do PCP ilustrou a «situação calamitosa» em que se encontra o País com «a sempre adiada recuperação económica», os milhares de jovens e não-jovens forçados a emigrar, «os problemas sociais cada vez mais agudos em resultado do desemprego, da precariedade, da degradação dos rendimentos dos trabalhadores e de outras classes e camadas populares, pela via do ataque aos salários, às reformas, às prestações sociais, aos direitos sociais e laborais, do aumento desmesurado dos impostos e do custo de vida, agravando as desigualdades e fazendo crescer as situações de pobreza».
Situação que o Presidente da República (PR) teima em ignorar mesmo quando a «salvaguarda do interesse nacional» e a credibilidade e funcionamento das instituições e do próprio regime democrático estão em causa. Degradação política e institucional em que avulta «o visível alastramento das redes de corrupção, da proliferação de teias de negociatas, dos compadrios, da fraude e evasão fiscais, que são de ontem e são de hoje.»
«De ontem e de hoje, porque são o resultado acumulado de uma política de anos ao serviço da recuperação capitalista, de reconstrução dos grandes grupos económicos monopolistas e do seu domínio, protagonizada por sucessivos governos dominados pelos mesmos que hoje governam o País - PSD e CDS - e pelo PS, como se tem visto, entre outros, nos processos do BPN, do BPP, do BCP e agora do Grupo GES/BES, cuja implosão é bem a imagem de marca de uma política assente na mentira, na especulação, na fraude, na promiscuidade entre negócios públicos e privados, como está patente, também e agora nos Vistos Gold.»
Neste último caso, «não foi só o Ministro [da Administração Interna] que ficou diminuído na sua autoridade e credibilidade», mas «o Governo no seu todo», constatou Jerónimo de Sousa, para quem, «quanto mais tempo se prolongar a vida deste Governo e da política que promove, mais fundo se cava a desgraça do País.»
Há alternativa
A isto acresce uma governação «fora da Lei e do quadro constitucional» e um Orçamento que prossegue o empobrecimento e ruína da vida dos portugueses e a destruição do País. «Orçamento do Estado da exploração, que segue o mesmo rumo da política de austeridade severa e de extorsão, iniciada com os PEC de Sócrates e que prosseguiu com a política das troikas que PS, PSD e CDS impuseram ao País». O objectivo, confirmado pela realidade, «é levar o mais longe possível a concentração e centralização da riqueza nas mãos de uma oligarquia económica e financeira possidente, que há muito engorda com a crise que ela própria engendrou» explicou o Secretário-geral do Partido, para logo em seguida sublinhar que esta política, «até aqui imposta em nome de um programa dito de ajuda, mas efectivamente de agressão e ingerência» e «em concertação com a União Europeia do directório das grandes potências e dos grandes monopólios», os mesmos protagonistas pretendem que continue, «agora, em nome do cumprimento do Tratado Orçamental que PS, PSD e CDS subscreveram e aprovaram», impondo «a ditadura do défice, o pensamento único de cega obediência aos mercados, a exploração do trabalho e a destruição das conquistas sociais dos povos.»
Tudo somado, «o tempo deste Governo esgotou-se definitivamente», conclui o dirigente comunista, antes de questionar: «o que é que é preciso que aconteça para o PR agir, demitir este Governo e convocar eleições antecipadas?»
«Este Governo não tem um projecto de futuro para garantir uma vida digna aos portugueses», insistiu, antes de considerar que, «faça o que fizer, este Governo será derrotado pela luta e o voto dos trabalhadores e do nosso povo». Saudada pelo dirigente comunista foi a jornada de luta convocada pela CGTP-IN «pela ruptura com a política de direita, a realizar de 21 a 25 deste mês».
Ruptura que para o PCP exige a afirmação de uma alternativa à política de direita, capaz de «dar resposta e superar os bloqueios que estão a fechar os caminhos do desenvolvimento do País». Uma política patriótica e de esquerda, assente em seis eixos fundamentais, que ponha fim à «extorsão e confisco, ao declínio económico, à injustiça, ao empobrecimento e ao rumo de afundamento nacional.»