Por maior justiça fiscal
Esta terça-feira, em conferência de imprensa, o deputado comunista Paulo Sá anunciou a apresentação de um projecto de lei que conforma uma política fiscal alternativa. Muitas das propostas nele contidas serão dirimidas já na fase de apreciação na especialidade do OE para 2015.
Urge aliviar a carga fiscal sobre os trabalhadores e o consumo das famílias
Partindo da iníqua realidade actual – uma comprovada carga fiscal excessiva sobre os rendimentos do trabalho em paralelo com uma muito insuficiente tributação aos lucros dos grandes grupos económicos e financeiros, aos dividendos dos accionistas e das sociedades gestoras de participações socais (SGPS), ao património mobiliário (acções e outros títulos financeiros) –, e tendo por objectivo uma maior justiça fiscal, as propostas do PCP vão no sentido da redução da tributação sobre os rendimentos do trabalho e sobre o consumo das famílias, avançando, simultaneamente, em compensação, com a elevação da tributação dos rendimentos do capital e dos consumos de luxo, e, bem assim, com a criação de novos impostos para tributar a especulação financeira e os grandes patrimónios mobiliários (acções e títulos financeiros).
Aliviada é desta forma a tributação dos trabalhadores e reformados, ao mesmo tempo que se impõe ao grande capital um maior e mais adequado esforço fiscal. Contas feitas, a bancada comunista garante que as suas propostas fiscais permitem assegurar um aumento de receita tributária em 3800 mil milhões de euros.
Maior equidade
Concretamente, no plano do IRS, é proposta a criação de 10 escalões de tributação de rendimento, reduzindo-se assim de forma significativa a tributação dos baixos e médios rendimentos. O aumento da regressividade das deduções à colecta, assegurando que estas crescem para os baixos e médios rendimentos, é outra das propostas da bancada comunista, que, ainda no plano do IRS, propõe a eliminação da sobretaxa extraordinária. Proposto é também que todos os rendimentos sejam sujeitos a englobamento, impondo uma tributação sobre o rendimento real (impedir assim que os rendimentos financeiros e prediais muito elevados sejam tributados abaixo do devido, garantindo aos mais baixos menor tributação). Ainda em sede de IRS, avança-se com um aumento da taxa do impostos para os rendimentos muito elevados, tributando os rendimentos colectáveis entre 105 mil e 152 mil euros a uma taxa de 50 por cento, os rendimentos entre 152 mil e 500 mil euros a uma taxa de 60 por cento e acima de 500 mil euros a uma taxa de 75 por cento.
Já no que toca ao IRC, entre outras propostas, destaque para a reposição da taxa normal de 25 por cento, bem como para a criação de duas novas taxas: uma, de 12,5 por cento para lucros inferiores a 15 000 euros; outra, de 35 por cento para lucros acima dos três milhões de euros. Mas o mais significativo em matéria de IRC é o conjunto de normas que impedem o planeamento fiscal por parte dos grandes grupos económicos e financeiros, estabelecendo a tributação não sobre o chamado resultado ou lucro colectáveis mas sobre os lucros contabilísticos. Realce, por outro lado, para a proposta de eliminação do Pagamento Especial por Conta, alargando a possibilidade de recurso a um regime simplificado, associado à introdução de coeficientes para apurar rendimento.
Apoio às MPME
Ainda no capítulo da fiscalidade, mais precisamente quanto ao Estatuto dos Benefícios Fiscais, proposto é o fim completo de qualquer benefício ao offshore da Madeira e aos fundos de investimento, e o mesmo em relação à isenção de 50 por cento do IMI a pagar pelos fundos de investimento.
Às pessoas de muito baixos rendimentos é alargada a isenção de IMI, isenção extensiva aos deficientes profundos. Ainda em sede de IMI, é proposta a manutenção da cláusula de salvaguarda.
Nota de destaque, entre o conjunto articulado de propostas, merecem ainda as que têm em vista uma mais efectiva taxação do grande capital, por via, nomeadamente, da criação de um imposto sobre o valor de todas as transacções financeiras em mercado regulado, em mercado não regulado e fora do mercado. Parte desta receita será consignada ao Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social.
Inovadora é, noutro plano, a proposta de tributação do património mobiliário, com incidência sobre as participações de capital nas empresas (quotas e acções) e títulos financeiros como poupanças, títulos de dívida privada e outros instrumentos financeiros associados à especulação. A pensar nas pequenas poupanças, esta proposta abrange apenas os patrimónios acima dos 100 mil euros.
Realce, por último, para a proposta que prevê que a contribuição sobre o sector bancário deixe de estar consignada ao Fundo de Resolução da banca.
Bens essenciais a 6% no IVA
No que se refere ao IVA, além da redução da taxa normal de 23 por cento para 21 por cento, o PCP recupera a taxa de 25 por cento (o máximo permitido na UE) para bens e serviços de luxo. Propõe também a retoma da taxa de 13 por cento na restauração, bem como um cabaz de bens essenciais taxados a 6 por cento, nos quais se inclui a energia eléctrica, o gás natural e o gás butano e propano. A generalização do IVA de Caixa nas relações com o Estado e o alargamento do actual regime de IVA de Caixa a todas as micro empresas que o desejem, integram igualmente o naipe de propostas do PCP.