Embusteiros
Perante o crescimento eleitoral da CDU, o desgaste acelerado dos partidos do Governo (PSD e CDS) e a recuperação residual do PS, soou o alarme do grande capital, preocupado com a erosão da base social de apoio aos partidos da política de direita.
Logo se agitaram os seus centros de comando e muitas foram as movimentações políticas que se sucederam nos últimos tempos, numa ansiosa e frenética procura de soluções. Propaganda enganosa, mistificação populista, apelos do PR à grande convergência e até o lançamento de novas formações políticas. Tudo a pensar na alternância, segundo o velho jogo de fingir que se muda alguma coisa para que tudo continue na mesma.
E perante o visível desgaste de um dos polos (PSD/CDS), o escolhido para a necessária operação de cosmética que, alterando rostos e estilos, deixe intactas as opções políticas, é naturalmente o PS. Inventou-se uma farsa, a que chamaram «primárias», para a escolha do candidato a PM, que, no passado domingo, depois de muitos golpes fratricidas, teve, finalmente, o seu desfecho.
Farsa porque a eleição do candidato a PM é coisa que a nossa Constituição não prevê. Embuste porque se procurou fazer passar a ideia de que os eleitores estariam perante a escolha de dois candidatos com opções políticas diferentes, o que manifestamente não é verdade, como a vida todos os dias tem mostrado. Têm a mesma orientação política estratégica para o País: prosseguir a política de direita, sujeitando os trabalhadores e o povo a mais exploração e empobrecimento e o grande capital a mais concentração e acumulação de riqueza.
Com o desfecho, aliás previsível, da disputa, a farsa terminou. O capital respirou de alívio porque considerou atingidos os objectivos: dar grande centralidade ao PS, «pôr o seu conta-quilómetros a zero» apagando as suas responsabilidades pelo desastre nacional que estamos a viver, acelerar a bipolarização para a alternância e silenciar o PCP e a sua intensa actividade.
Como embusteiros que são, nunca contam é com a determinação e confiança dos que lutam pela real alternativa. E, por isso, mais tarde ou mais cedo, terão surpresas para as quais não há embustes que lhes valham.