Confiança

Paulo Raimundo (Membro da Comissão Política do PCP)

Con­fi­ança, mesmo numa al­tura em que os bolsos de quem tra­balha são usur­pados em mais de oito mil mi­lhões de euros só para pa­ga­mento de juros da dí­vida e quando se pre­para mais de sete mil mi­lhões de euros de cortes na des­pesa para os pró­ximos anos.
Con­fi­ança, mesmo quando é des­truída a ca­pa­ci­dade pro­du­tiva do País, com um mi­lhão e qua­tro­centos mil tra­ba­lha­dores de­sem­pre­gados, três mi­lhões de po­bres e uma emi­gração ao nível da dé­cada de 60 do sé­culo pas­sado.

Também na ju­ven­tude o nosso pro­jecto e pro­postas ga­nham es­paço

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Con­fi­ança, mesmo quando nos con­fron­tamos com a po­lí­tica da ilusão, da men­tira e da mis­ti­fi­cação; quando nos pro­curam fazer crer que ti­vemos uma «saída limpa», que es­tamos pe­rante um «mi­lagre eco­nó­mico», quando esse mi­lagre há 38 anos se sdó be­ne­fícia os grandes in­te­resses; que o de­sem­prego baixa todos os meses, mesmo quando não é criado em­prego e mi­lhares estão em­pur­rados para ocu­pa­ções tem­po­rá­rias; que está em curso um «es­forço para a baixa dos im­postos» quando o que efe­ti­va­mente baixou foram 180 mi­lhões de euros em IRC no pri­meiro se­mestre do ano; que estão em curso me­didas de «apoio à na­ta­li­dade», quando os úl­timos anos (do ac­tual e an­te­ri­ores go­vernos) são mar­cados pela des­truição das vidas de mi­lhares de tra­ba­lha­dores, roubos nos abonos de fa­mília e ou­tras pres­ta­ções so­ciais (menos 200 mi­lhões de euros no pri­meiro se­mestre do ano).

Con­fi­ança, mesmo quando é trans­fe­rido dos nossos sa­lá­rios, pen­sões e re­formas todo o di­nheiro ne­ces­sário para tapar os bu­racos do sis­tema fi­nan­ceiro, esse mesmo res­pon­sável pela ac­tual si­tu­ação e para o qual há sempre todos os re­cursos ne­ces­sá­rios.

Con­fi­ança, mesmo quando a «crise» já roubou 3,6 mil mi­lhões de euros aos sa­lá­rios e en­tregou de mão bei­jada 2,6 mil mi­lhões ao ca­pital. O anúncio do au­mento do SMN é apenas o mais re­cente nú­mero de hi­po­crisia – au­mentar um sa­lário de 485 euros brutos con­ce­dendo con­tra­par­tidas ao pa­tro­nato é um es­cân­dalo. O mesmo ca­pital que exige a des­truição da con­tra­tação co­lec­tiva, o roubo nas horas ex­tra­or­di­ná­rias, a li­be­ra­li­zação dos des­pe­di­mentos e dos ho­rá­rios de tra­balho, o fim de­fi­ni­tivo dos fe­ri­ados rou­bados, é o mesmo a quem é ofe­re­cido di­nheiro do tra­balho (o di­nheiro da Se­gu­rança So­cial é di­nheiro do tra­balho e não do ca­pital) para pagar o au­mento do SMN.

Va­li­dade do nosso pro­jecto

Con­fi­ança, mesmo quando con­fron­tados com um Go­verno de po­lí­tica da terra quei­mada onde se in­ten­si­ficam as con­tra­di­ções, que vendo o seu tempo de vida es­cas­sear e o ca­pital a pro­curar mudar de mon­tada para manter no fun­da­mental o mesmo rumo, tudo fará para ir tão longe quanto pos­sível na con­cre­ti­zação da sua po­lí­tica des­trui­dora.

Con­fi­ança, mesmo quando se volta a apre­sentar como os sal­va­dores os que pro­curam impor agora uma ava­lanche me­diá­tica, co­lo­cando o conta-qui­ló­me­tros a zero como se nada ti­vessem a ver com isto, com novas to­ne­ladas de falsas es­pe­ranças e pro­messas para voltar a vender.

Esses que afirmam que agora é que é, que é pre­ciso mudar para que tudo fique na mesma, cri­ando e fo­men­tando novas e pe­ri­gosas ilu­sões, apoi­adas como sempre pelos que en­con­tram na ac­tual po­lí­tica a sua fonte de cres­ci­mento e cujo seu in­te­resse é a sua ma­nu­tenção in­de­pen­den­te­mente que quem é a sigla ou homem do leme.

Con­fi­ança, mesmo sa­bendo que o maior de todos os pe­rigos da ilusão é a di­mensão da de­si­lusão.

Con­fi­ança, não nas pa­la­vras, não na con­jun­tura, mas sim na va­li­dade do nosso pro­jecto de ver­dade, na pro­posta al­ter­na­tiva que apre­sen­tamos e, acima de tudo, na imensa, per­sis­tente e de­ter­mi­nada luta que os tra­ba­lha­dores e o povo estão a de­sen­volver.

Con­fi­ança re­do­brada que advém do co­nhe­ci­mento da re­a­li­dade, da pro­funda li­gação aos tra­ba­lha­dores, ao povo, à ju­ven­tude, aos seus di­reitos e an­seios.

Con­fi­ança sus­ten­tada no alar­ga­mento dos que iden­ti­ficam não nas caras mas sim nas po­lí­ticas o centro dos pro­blemas que cada um e o País en­frentam.

Os mais de 900 jo­vens que ade­riram à JCP e os mais de 2000 que de di­fe­rentes formas se as­so­ci­aram à or­ga­ni­zação desde o início do ano, de­mons­tram que também na ju­ven­tude o nosso pro­jecto e pro­postas ga­nham es­paço.

Um es­paço que se traduz no re­forço da or­ga­ni­zação, no au­mento da luta ju­venil e no alar­ga­mento da exi­gência de rup­tura com esta po­lí­tica de des­truição e afir­mação da al­ter­na­tiva pa­trió­tica e de es­querda, a única pro­posta capaz de dar res­posta aos an­seios da ju­ven­tude.

O nosso ca­minho é even­tu­al­mente longo, ne­ces­sa­ri­a­mente di­fícil e cer­ta­mente si­len­ciado e de­tur­pado, mas é e foi assim também a his­tória da justa luta do povo.

 



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