Uma velha novidade

Vasco Cardoso

Um dos objectivos dessa grande operação destinada a dar força à continuidade da política de direita que constituíram estes últimos meses de cobertura mediática ao processo eleitoral dentro do PS, foi também a projecção do modelo das «primárias» como um poço de virtudes, de democracia e cidadania ou, como disse um dos candidatos «a melhor comemoração dos 40 anos do 25 de Abril de 1974». Muitos dos comentadores e analistas de serviço não só acompanharam esta ideia como fizeram ensaios e projecções quanto à sua reprodução nos restantes partidos. As «primárias», dizem, são o futuro para escolher candidatos a primeiro-ministro, candidatos a presidentes de Câmara, candidatos a deputados e por aí fora.

Na verdade, as chamadas primárias estão longe de constituir uma novidade. Nos EUA, onde a bipolarização instituída em torno de Democratas e Republicanos funciona como seguro de vida dos interesses do grande capital financeiro que domina este país, as «primárias» há muito que fazem parte do jogo eleitoral. Não consta, entretanto, que desse modelo de «democracia» resultem grandes diferenças na política que tem sido levada a cabo nesse país e pelos EUA no resto do mundo.

De facto, este processo de decisão partidária, assente na mistificação como foi a da escolha do candidato a primeiro-ministro; construída na base da arregimentação como se verificou com o pagamento de quotas por terceiros ou a inscrição de simpatizantes, como aconteceu em Braga, apesar de já estarem mortos; desenvolvida na base da fulanização, sem ideias, sem propostas, sem projecto ou compromissos futuros, tudo se resumindo ao perfil, ao carisma, à imagem de duas pessoas em aparente confronto. Este processo, dizia eu, servirá bem, tal como nos EUA, à continuidade da política que está em curso, mas afasta-se, e muito, da necessária ruptura e mudança de que o País precisa.

A ideia da generalização deste modelo é simpática para o grande capital. Aumenta ainda mais o poder de condicionamento por parte dos órgãos de comunicação social (e de quem os domina) nas escolhas feitas pela população e concentra nas figuras dos partidos da política de direita as opções existentes. E o PS, uma vez mais, prestou-se a tal.




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