Fábulas, contos e outras histórias
«Quem escreve História tem naturalmente conceitos de natureza ideológica e teórica mais ou menos aprofundados. Conceitos de classes que tornam inevitável a diferente apreciação dos acontecimentos (...) É pecado de quem escreve História se a escreve com ideias feitas e definitivas, as quais submeta os acontecimentos e sua interpretação.»
A afirmação e prevenção de Álvaro Cunhal assenta que nem uma luva a alguns desta torrente de historiadores que por aí peruram. E assentaria ainda melhor em Raquel Varela, não se desse o caso se estar perante uma contadora de histórias mais do que uma historiadora. Dir-se-á, desde logo por razões preventivas à infundada réplica sobre a acusação de aqui estarmos a querer limitar a liberdade ou o direito de cada um enveredar por qualquer uma daquelas duas nobres actividades que, com mais sucesso e propriedade, RV pudesse encontrar em outros ramos – do conto à fábula – espaço para espraiar o que a sua imaginação liberta.
Imbuída daquele traço essencial que une muitos, dos que da história à análise, cultivam o preconceito anti-comunista e o ataque ao PCP, Raquel não se coíbe de reescrever, tresler e inventar o que mais escorreitamente adira às teses que quer vender. Mesmo que por detrás da embalagem académica se revelem confrangedoras limitações de conhecimento. Nada que a impeça de sentenciar sobre o PCP.
Diz Raquel Varela, num louvável gesto de reconhecimento das suas limitações, que «não sabemos porque há revoluções, só se faz a história de uma revolução. Ninguém olhou para o século XX e explicou (...) porque os povos se lançam numa luta contra o Estado». Fique RV descansada que não será nem por desporto nem mau feitio. Soubesse quem foi Marx, e alguma vez o tivesse lido, e a dúvida que a corrói estava desvanecida. Nunca é tarde para aprender. A vida tem destas pequenas coisas: uma simples leitura e a fronteira entre a ignorância e o conhecimento, ali está vencida! O que mais espanta é que, quem não sabe o que é uma revolução, venha sentenciar que «o PCP não procurou fazer uma revolução socialista» Não há espaço agora para explicações sobre os processos de transformação social e as etapas de desenvolvimento humano e social. Talvez, um dia, RV as venha a alcançar.