Contradições insanáveis
Sobre o caso BES, o PS veio a público, dois dias após o Governador do BdP e o Governo terem anunciado a criação do «Novo Banco», pela voz de Eurico Dias, declarar: «O PS foi e é contra que sejam os contribuintes e os depositantes a pagar os prejuízos dos bancos. A solução anunciada pelo Banco de Portugal e pelo Ministério das Finanças cumpre, para já, as exigências do PS.» Um dia antes, José Seguro declarou-se contra a recapitalização do BES com dinheiros públicos. Mas, sobre o BCP, Banif e BPI não levantou qualquer problema.
Em abono da verdade (e da coerência) apetece fazer algumas perguntas ao PS:
1. No caso BPN do tempo do PM José Sócrates, foi ou não o PS quem propôs a nacionalização dos prejuízos (aprovada com os votos do PS, PSD, CDS e BE) cujos custos para o erário público já vão em 2202,5 milhões de euros (dados do Tribunal de Contas) e que poderá vir a custar pelo menos mais quatro mil milhões aos contribuintes e depositantes?
2. No caso BES, acha o PS possível que em 48 horas o Banco de Portugal tenha conseguido, como por um passo de mágica, determinar que 80% do balanço do antigo BES são a parte boa do banco e 20% a parte má? E, se como é bem possível, não for assim? E se afinal a parte boa não for tão boa como a pintam? Quem paga? Acredita o PS que será a restante banca?
3. Não foi, por acaso, o PS um dos três subscritores do Pacto de Agressão da troika (conjuntamente com o PSD e CDS)? Lembrar-se-á (enfim, lapsos de memória qualquer um os pode ter) que, ao subscrever o Pacto de Agressão, se comprometeu a processos de reestruturação na banca que implicam a redução de milhares de postos de trabalho até final de 2017?
4. Como pode a solução agora anunciada para o BES cumprir as exigências do PS, se a reestruturação do «Novo Banco» tem exactamente o objecivo de «preparar, com a injecção de dinheiros públicos e à custa dos trabalhadores, a sua entrega a grupos privados, garantindo níveis elevados de rentabilidade e de lucro» (comunicado do PCP)? E, se o PS percebeu isto (e lá que percebeu, percebeu), então, a contradição é mesmo grave e indissociável da política de direita a que decidiu amarrar-se. E para tal mal, só há um remédio: ruptura com esta política e alternativa patriótica e de esquerda.