Foi você que pediu?

João Frazão

Há muitos anos havia uma marca de Vinho do Porto que tinha como slogan a expressão que dá título a esta crónica, e de que eu me lembro recorrentemente a propósito de um certo resultado saído das últimas eleições do Parlamento Europeu.
E veio-me novamente à cabeça, com a novidade anunciada esta semana de que a estrela cintilante desse mesmo resultado, que prometia revolucionar toda a forma de fazer política, que até escolheu o partido pelo qual se candidatava, afinal já não lhe apetece ser eurodeputado, apenas meia dúzia de dias depois de ter tomado posse.
O resultado de Marinho e Pinto nas eleições para o PE foi construído, como na altura o PCP afirmou, pela sua prolongada exposição mediática, na base de um discurso demagógico e assente no mais desbragado populismo, incluindo contra a política e os políticos. Com aquele jeito de quem não se cala, voz grossa e tronitruante, com meia dúzia de episódios a roçar o burlesco, MP apresentou-se com a mascarilha de justiceiro, a cavar fundo na desesperança e no desalento que o capital e os governos ao seu serviço vão instigando e de que precisam para prosseguirem a sua política anti-social e antipopular.
Milhares de homens e mulheres esperariam assim, ter agora a voz de MP no Parlamento Europeu, seguramente na expectativa de que isso garantisse a expressão pública das suas legítimas preocupações.
Passados esta meia dúzia de dias, e depois do episódio da família política em que o tal partido acabou por se inserir – o MPT, dito ecologista, vai integrar-se no Grupo dos Liberais – Marinho Pinto anunciou que se virá embora. Pelo meio fica a sua declaração (ele que se afirmava contra a carreira na política) de que não poderá prescindir do salariozinho, ainda que diga que lhe parece excessivo, porque é, imagine-se, pobre.
Sublinhe-se que não se põe em causa o método de eleição por lista, em que fica ao Partido concorrente, verdadeiro detentor dos mandatos, a responsabilidade de gerir a sua participação.
Mas neste caso MP e o MPT assentaram toda a sua campanha na fulanização da eleição do cabeça de lista, num compromisso pessoal que, agora, ainda antes da primeira curva, rasgam, sem qualquer vergonha.
E é por isso que me lembra sempre de perguntar, foi você que pediu um Marinho Pinto no PE?




Mais artigos de: Opinião

Contradições insanáveis

Sobre o caso BES, o PS veio a público, dois dias após o Governador do BdP e o Governo terem anunciado a criação do «Novo Banco», pela voz de Eurico Dias, declarar: «O PS foi e é contra que sejam os contribuintes e os depositantes a pagar os prejuízos dos bancos....

15 minutos

«Se as consultas demorassem só 15 minutos, não havia falta de médicos de família», titulava o Público na semana passada. Quase que apetece dizer que se não houvesse utentes também não faltavam médicos e se não houvesse portugueses...

Solidariedade aos comunistas ucranianos

O processo movido pelas autoridades golpistas em Kiev contra o Partido Comunista da Ucrânia (PCU), visando a sua interdição, tem o seu reinício marcado para hoje, 14 de Agosto de 2014. O intuito de interditar o PCU – depois de consumada a artimanha para dissolver o seu grupo...

A jibóia

O resgate ao BES de 4,9 mil milhões de euros, decidido pelo BdP e tendo como fiador o Estado português, ocorreu emparelhado com notícias de mais cortes nas pensões (incluindo as de sobrevivência ou de solidariedade) anunciadas por Mota Soares, o ministro arrelampado que andava de mota e...

Construção com ligação<br> à vida e à luta

No quadro das linhas gerais de trabalho, da continuação da luta contra os profundos ataques aos direitos laborais nas empresas e locais de trabalho, das populações na defesa dos serviços públicos, da resposta à necessidade de reforço do Partido e da execução da campanha de contactos e de elevação da militância, a Festa do Avante! assume particular importância, como refere o comunicado do Comité Central de 29 e 30 de Junho de 2014, que salienta a «prioridade que constitui o trabalho para o seu êxito».