Foi você que pediu?
Há muitos anos havia uma marca de Vinho do Porto que tinha como slogan a expressão que dá título a esta crónica, e de que eu me lembro recorrentemente a propósito de um certo resultado saído das últimas eleições do Parlamento Europeu.
E veio-me novamente à cabeça, com a novidade anunciada esta semana de que a estrela cintilante desse mesmo resultado, que prometia revolucionar toda a forma de fazer política, que até escolheu o partido pelo qual se candidatava, afinal já não lhe apetece ser eurodeputado, apenas meia dúzia de dias depois de ter tomado posse.
O resultado de Marinho e Pinto nas eleições para o PE foi construído, como na altura o PCP afirmou, pela sua prolongada exposição mediática, na base de um discurso demagógico e assente no mais desbragado populismo, incluindo contra a política e os políticos. Com aquele jeito de quem não se cala, voz grossa e tronitruante, com meia dúzia de episódios a roçar o burlesco, MP apresentou-se com a mascarilha de justiceiro, a cavar fundo na desesperança e no desalento que o capital e os governos ao seu serviço vão instigando e de que precisam para prosseguirem a sua política anti-social e antipopular.
Milhares de homens e mulheres esperariam assim, ter agora a voz de MP no Parlamento Europeu, seguramente na expectativa de que isso garantisse a expressão pública das suas legítimas preocupações.
Passados esta meia dúzia de dias, e depois do episódio da família política em que o tal partido acabou por se inserir – o MPT, dito ecologista, vai integrar-se no Grupo dos Liberais – Marinho Pinto anunciou que se virá embora. Pelo meio fica a sua declaração (ele que se afirmava contra a carreira na política) de que não poderá prescindir do salariozinho, ainda que diga que lhe parece excessivo, porque é, imagine-se, pobre.
Sublinhe-se que não se põe em causa o método de eleição por lista, em que fica ao Partido concorrente, verdadeiro detentor dos mandatos, a responsabilidade de gerir a sua participação.
Mas neste caso MP e o MPT assentaram toda a sua campanha na fulanização da eleição do cabeça de lista, num compromisso pessoal que, agora, ainda antes da primeira curva, rasgam, sem qualquer vergonha.
E é por isso que me lembra sempre de perguntar, foi você que pediu um Marinho Pinto no PE?