Quando as pontes caem

Vasco Cardoso

No início deste mês, na linha da Beira Alta, um comboio de mercadorias com destino a Madrid descarrilou tendo sido o mais recente acidente ferroviário de uma série que, só nos últimos dois meses, contou com outros dois descarrilamentos na ferrovia portuguesa a 15 e a 28 de Maio; no sector aéreo sucedem-se notícias que dão conta de um registo anormal de atrasos, avarias e, até ao momento, de pequenos incidentes com voos da TAP como o que recentemente ocorreu após a descolagem de um avião da Portela que originou a queda de peças sobre carros e casas na zona de Camarate, em Loures; quem atravessar a Estrada Nacional 125 no Algarve ou o IC8 no Alentejo, para além da crescente degradação do piso, encontrará várias obras interrompidas, pontes que ficaram a meio, valetas por cobrir, um verdadeiro estaleiro a céu aberto. Esta situação que está longe de constituir um caso único arrasta-se há quase três anos com o agravamento das condições de segurança e da própria sinistralidade rodoviária que coloca em risco as populações.

Não estamos perante um conjunto de situações isoladas, episódicas, pontuais e desligadas do rumo que tem sido imposto às empresas, infraestruturas e investimento públicos. Em vez de uma política que procure servir as populações e o desenvolvimento do País, aquilo a que assistimos é ao desinvestimento e abandono, a um ataque brutal aos direitos dos trabalhadores destas empresas que se reflecte na qualidade e fiabilidade dos serviços e infraestruturas e a uma colossal transferência de recursos – por via das privatizações, concessões, portagens, PPP e juros pagos à banca e outros contratos como os Swap – para os grupos monopolistas.

De facto aquilo que está em jogo é muito sério. Não é preciso ser bruxo para adivinhar que a continuação desta política não só atrasa o País, como degrada as condições de segurança e aumenta os riscos para as populações. Quando a 4 de Março de 2001 se deu a tragédia da ponte de Entre-os-Rios, que custou a vida aos 59 passageiros de um autocarro, Jorge Coelho, o então ministro do PS, «assumiu as suas responsabilidades», demitiu-se e... foi para a Mota Engil. É preciso lutar muito para que a história não se repita!



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