Fectrans analisa contas da Metro do Porto

Via sem saída

A Metro do Porto cons­titui «o mais po­de­roso des­men­tido das teses ne­o­li­be­rais e ne­o­co­lo­niais sobre as con­ces­sões da ex­plo­ração a pri­vados», como se vê nas contas de 2013.

Ao ope­rador pri­vado e aos bancos o lucro está ga­ran­tido

A Fe­de­ração dos Sin­di­catos de Trans­portes e Co­mu­ni­ca­ções co­locou o foco na Metro do Porto, porque esta «apre­senta a im­por­tante ca­rac­te­rís­tica de cor­res­ponder ao mo­delo que as troikas querem impor a todo o sis­tema de trans­porte pú­blico por­tu­guês». Desde a sua origem, «é uma em­presa pú­blica com um nú­mero muito re­du­zido de tra­ba­lha­dores e de­di­cada es­sen­ci­al­mente à gestão de sub-con­tratos, es­tando a ac­ti­vi­dade co­mer­cial con­ces­si­o­nada a pri­vados desde o início do fun­ci­o­na­mento da infra-es­tru­tura».

Su­cede que, des­fa­zendo a ca­mu­flagem de pro­pa­ganda que jus­ti­fica este ca­minho para a en­trega do sector ao ca­pital pri­vado, a Metro do Porto é «a em­presa pú­blica onde a dí­vida cresce mais ra­pi­da­mente».

A aná­lise do Re­la­tório e Contas de 2013 per­mitiu ainda à Fec­trans/​CGTP-IN «de­mons­trar como estão noutro sítio, e não no ca­rácter pú­blico da ex­plo­ração co­mer­cial, as ex­pli­ca­ções para os de­se­qui­lí­brios que os su­ces­sivos go­vernos trans­fe­riram para as em­presas pú­blicas».

Na es­tru­tura de des­pesas dos úl­timos três anos, os va­lores de «for­ne­ci­mentos e ser­viços ex­ternos» têm um peso de­ter­mi­nante, quer quanto a «cons­trução» (quase cem mi­lhões de euros, es­sen­ci­al­mente em 2011 e 2012), quer na ru­brica «ou­tros» (mais de 165 mi­lhões, dos quais vão 143,52 mi­lhões para o sub­con­trato de ope­ração do Sis­tema de Metro Li­geiro). Os «gastos com pes­soal» somam neste triénio apenas 13,98 mi­lhões de euros.

A Fec­trans res­salva que, para ava­liar as des­pesas ope­ra­ci­o­nais, há que ir aos re­sul­tados fi­nan­ceiros buscar o custo com o le­a­sing do ma­te­rial cir­cu­lante (total de 250 mi­lhões de euros, com uma amor­ti­zação de 6,2 mi­lhões em 2013), bem como os juros e as perdas dos dois con­tratos swap as­so­ci­ados ao le­a­sing.

Nas re­ceitas, o peso fun­da­mental vai para «trans­porte de pas­sa­geiros» (114 mi­lhões de euros, no total dos três anos) e «sub­sídio à ex­plo­ração» (35 mi­lhões).

É con­tes­tada pela fe­de­ração a anun­ciada taxa de co­ber­tura de 89 por cento das des­pesas de ex­plo­ração pelas re­ceitas, pois tal «deve-se sim­ples­mente à ma­ni­pu­lação dessas ru­bricas, como se as des­pesas com o ma­te­rial cir­cu­lante e com a infra-es­tru­tura pu­dessem ser com­ple­ta­mente se­pa­radas da ex­plo­ração».

Isto é re­co­nhe­cido pelo pró­prio pre­si­dente do con­selho de ad­mi­nis­tração da Metro do Porto, as­si­nala a Fec­trans. No texto de in­tro­dução ao Re­la­tório, João Velez Car­valho es­creve que os re­sul­tados lí­quidos da em­presa con­ti­nuam a evi­den­ciar «a au­sência de con­tra­par­tidas pela uti­li­zação do in­ves­ti­mento re­a­li­zado, a ne­ces­si­dade de cri­ação de pro­vi­sões para re­po­sição dos equi­pa­mentos cuja vida útil seja in­fe­rior ao pe­ríodo de con­cessão, a en­trega a custo zero e em nor­mais con­di­ções de uso de todo o apa­relho pro­du­tivo no final desta, o fi­nan­ci­a­mento do in­ves­ti­mento com 76 por cento de ca­pital alheio e os efeitos dos con­tratos de de­ri­vados fi­nan­ceiros ce­le­brados em anos an­te­ri­ores».

Neste mo­delo, com a ex­plo­ração co­mer­cial já pri­va­ti­zada, a em­presa pú­blica «paga ao con­ces­si­o­nário mais do que re­cebe em re­ceitas de ex­plo­ração, paga o le­a­sing dos com­boios, paga todas as res­tantes sub­con­tra­ta­ções ne­ces­sá­rias à ope­ração, paga as obras na infra-es­tru­tura, paga tudo», con­clui a fe­de­ração, es­pe­ci­fi­cando: «A Metro do Porto paga à pri­vada Via Porto tudo o que re­cebe de re­ceitas de ex­plo­ração e de in­dem­ni­zação com­pen­sa­tória. De­pois, “só” pre­cisa de pagar tudo o resto: o alu­guer dos com­boios, a vi­gi­lância, as obras, a bi­lhé­tica, etc., etc., etc.».

 

A dí­vida e os pa­ra­sitas

De 2012 para 2013, a dí­vida da Metro do Porto cresceu 457 mi­lhões de euros. Este au­mento é o re­verso da apre­sen­tada «me­lhoria dos re­sul­tados lí­quidos», no­tando a Fec­trans que as perdas po­ten­ciais dos con­tratos swap foram trans­for­madas em perdas reais e os res­pec­tivos pa­ga­mentos foram co­bertos com em­prés­timos do Es­tado.

O salto do en­di­vi­da­mento as­sentou na ru­brica «em­prés­timos mú­tuos» e, nesta, vê-se que:
a Di­recção-Geral do Te­souro e Fi­nanças tem em 2013 mais 534 mi­lhões de euros;
o Deustche Bank, o BNP Pa­ribas e o No­mura re­ce­beram 280 mi­lhões de euros.

A Metro do Porto tem a ex­plo­ração co­mer­cial pri­va­ti­zada desde o pri­meiro dia, ca­minho que a União Eu­ro­peia e os go­vernos de­fendem para todo o sector. Mas a em­presa, su­blinha a Fec­trans, «acu­mula uma dí­vida com­ple­ta­mente im­pa­gável».
Tal como nas res­tantes em­presas pú­blicas de trans­portes, esta dí­vida foi criada «es­sen­ci­al­mente pela acção con­ju­gada dos go­vernos e da UE», com des­taque para quatro efeitos de tais ori­en­ta­ções e de­ci­sões:

su­bor­ça­men­tação do in­ves­ti­mento em infra-es­tru­turas e ma­te­rial cir­cu­lante;
sub­fi­nan­ci­a­mento es­tatal da ex­plo­ração;
en­cargos com o ser­viço da dí­vida;
perdas es­pe­cu­la­tivas.

A com­po­sição da dí­vida ac­tual, des­crita no Re­la­tório e Contas, mostra que 1720 mi­lhões de euros têm a ver com fi­nan­ci­a­mento de «obras re­a­li­zadas» e que 1200 mi­lhões dizem res­peito a juros pagos (610 mi­lhões), li­qui­dação an­te­ci­pada de con­tratos swap (340 mi­lhões) e pa­ga­mento de cou­pons (pres­ta­ções) de con­tratos swap (250 mi­lhões).
No es­tudo, pu­bli­cado a 24 de Junho no sítio elec­tró­nico da Fec­trans, re­corda-se que, desde que foi cons­ti­tuída a Metro do Porto, há 21 anos, para o in­ves­ti­mento re­a­li­zado apenas foram trans­fe­ridos do Or­ça­mento do Es­tado (através do PIDDAC) 160,5 mi­lhões de euros, valor que re­pre­senta 6,1 por cento do ne­ces­sário, obri­gando a em­presa a re­correr a em­prés­timos.
Para a Fec­trans, a Metro do Porto «tem os pi­ores re­sul­tados de todas as em­presas pú­blicas, re­gis­tando o maior cres­ci­mento da dí­vida», porque «tem que ali­mentar um enorme con­junto de pa­ra­sitas».
Agora, «só há di­nheiro para pagar juros e swaps, não para in­vestir» (as «des­pesas de in­ves­ti­mento» foram de apenas 400 mil euros, em 2013, e ti­nham sido de 53,27 mi­lhões no ano an­te­rior), en­quanto pros­segue a po­lí­tica de re­dução de tra­ba­lha­dores e roubo dos sa­lá­rios.




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